Setor de máquinas e equipamentos responde a dinamismo do mercado interno

O primeiro quadrimestre de 2025 sinaliza continuidade do crescimento do setor de máquinas e equipamentos, segundo os dados mais recentes divulgados pelo Departamento de Competitividade, Economia e Estatística da ABIMAQ, relativos a abril de 2025, fechando o quadrimestre com alta de 13,4% frente a igual período do ano anterior.

Como explica Maria Cristina Zanella, diretora executiva do DCEE, esse resultado positivo vem sendo registrado desde o início do ano, com indicadores de dois dígitos. Contudo, “parte do crescimento é atribuída à base de comparação deprimida, dado que o setor vinha de três anos consecutivos de queda nas receitas”, informa ela.

Embora os números se mostrem positivos, os indicadores refletem um nível de investimento em 2025 ainda fraco em relação às necessidades do País e relativa desaceleração na ponta, na visão da diretora do DCEE, e as expectativas seguem positivas, mas com desaceleração do crescimento “esperamos desaceleração das receitas de vendas em maio de 2025 a estabilidade na utilização da capacidade instalada em abril sinaliza perda de fôlego.”

Na mesma linha o índice de confiança da indústria de máquinas e equipamentos, divulgado pela FGV, indica atividade baixo da observada em abril em razão da piora no mercado externo, no mercado interno o indicador aponta leve alta. No médio prazo, a expectativa é de desaceleração ainda mais acentuada, impulsionada pela combinação da política monetária restritiva e pela esperada desaceleração da atividade econômica no País.

Adicionalmente, o protecionismo crescente nos Estados Unidos e o aumento das incertezas globais devem impactar negativamente a tomada de decisão dos investidores. Nesse contexto, projeta-se que a expansão observada no primeiro quadrimestre (13%) perca força ao longo do ano, com o crescimento da receita líquida do setor convergindo para modestos 3,7% em 2025.

Mercado interno

No âmbito do mercado doméstico, os efeitos da política monetária contracionista, já em curso, num ambiente de inflação acima da meta, devem refletir em desaceleração. Neste contexto, atividades dependentes exclusivamente de crédito, como o setor imobiliário e bens de consumo semi e não duráveis, tendem a ser os mais impactados negativamente.

Em função dessas condições, segundo Zanella, “a expectativa para a indústria de máquinas e equipamentos é de pequena recuperação. A previsão é de crescimento de 3,7% na receita liquida de vendas após três quedas consecutivas: 8,6% em 2024; 11,0% em 2023; e 5,8% em 2022. No mercado doméstico a expectativa é de crescimento de 2,3%.”

Nas exportações, que se encontram em níveis historicamente elevados, a previsão é de estabilidade nos valores em dólares. Mas o real relativamente desvalorizado (R$/US$ 5,8 em 2025 contra R$/US$ 5,4 em 2024) contribuirá para uma receita total maior no período, frisa a diretora do DCEE.

Olhando para os mercados de atuação do setor fabricante de máquinas e equipamentos a expectativa é de aumento da receita liquida de máquinas para agricultura, petróleo e energia renovável, infraestrutura e construção civil. Por outro lado, a estimativa da área de Competitividade e Economia da ABIMAQ é a de que deve haver desaceleração nas receitas com máquinas para a indústria de transformação e de bens de consumo. Setores relacionados a consumo das famílias continuarão aquecidos em razão da baixa taxa de desemprego e da expansão fiscal do início de ano.

Investimentos

Em pesquisa realizada entre 1 de dezembro de 2024 e 20 de janeiro de 2025, o DCEE detectou que, após anos consecutivos de quedas no nível de investimentos da indústria de máquinas e equipamentos, o setor anunciou que pretende investir R$ 8,35 bilhões, crescimento de 4,04% em relação ao investimento realizado em 2024 (R$ 8,03 bilhões).

“Para o ano de 2025, o cenário de desaceleração das atividades econômicas, reflexo da política monetária contracionista, poderia ser um fator de inibição dos investimentos do produtor de máquinas, mas não foi o que a pesquisa revelou. Anos seguidos de queda nos investimentos colocaram como necessidade prioritária a modernização tecnológica das empresas (38,2% da amostra)”, comenta Zanella.

Para a diretora da DCEE, “um mercado em ascensão a longo prazo também contribui para a decisão de maior nível de investimentos em 2025. Quase 32% das empresas consultadas disseram que pretendem investir para ter sua capacidade industrial ampliada, sendo que 22% pretendem investir para substituir suas máquinas depreciadas.”

Primeiro trimestre 2025

A indústria brasileira de máquinas e equipamentos registrou desempenho positivo durante o mês de abril. A receita líquida de vendas atingiu quase R$ 25 bilhões, representando um crescimento de 9,0% em relação a abril de 2024 e de 4,8% em relação a março de 2025 (com ajuste sazonal), anulando a queda registrada no mês anterior (-4,7%).

Esse resultado – esclarece Zanella – “foi impulsionado pela melhora tanto no mercado doméstico quanto nas exportações, que cresceram 6,8% e 1,4%, respectivamente. Com isso, a receita líquida total do setor acumulou alta de 13,4% no período de janeiro a abril, comparado ao mesmo período de 2024 — reflexo não apenas da base fraca de comparação, mas também da resiliência de segmentos menos sensíveis ao aperto da política monetária.”

Mercado Interno

O mercado doméstico movimentou R$ 18,6 bilhões em abril, com aumento de 14,7% sobre abril de 2024 e 6,8% em relação a março (ajustado). No acumulado do ano, o crescimento foi de 17,1% frente ao mesmo período de 2024, com ligeira desaceleração frente ao desempenho até março (17,9%).

A utilização da capacidade instalada estabilizou-se em 77,6% em abril, 5,1 pontos percentuais acima da registrada em abril de 2024, com média de 77% no quadrimestre, frente a 73% no mesmo período do ano passado. A carteira de pedidos avançou 3,9% no mês, com destaque para máquinas agrícolas (+14,1%) e componentes (+6,3%), embora ainda esteja 1,5% abaixo do registrado em 2024.

Emprego

O emprego no setor também cresceu, atingindo 422 mil trabalhadores, alta de 2,5% sobre março e 33 mil postos a mais em relação a abril de 2024 (+8,6%), com destaque para os segmentos de máquinas agrícolas, máquinas para construção civil e para bens de consumo, que registraram altas significativas de mão de obra (7,5%, 7,9% e 10,2%, respectivamente).

Mercado externo – As exportações somaram US$ 1,04 bilhão em abril, com crescimento de 1,1% em relação a março, mas ainda 12,9% abaixo de abril de 2024. No acumulado do ano (janeiro a abril), as exportações recuaram 7,8% frente ao mesmo período do ano anterior, agravando a queda observada até março (-5,7%).

Apesar disso, Zanella comenta que “cinco dos sete grupos setoriais registraram melhora em abril, com destaque para máquinas para logística e construção civil e máquinas para bens de consumo (alimentos, bebidas, madeira e ginástica). As exportações para a América do Sul cresceram 10,7%, com destaque para a Argentina (+48,8%), enquanto a China aumentou suas compras em 107,5%, tornando-se o 8º destino do setor.”

Por outro lado, as exportações para a América do Norte recuaram 22,7% no acumulado do ano, embora tenham crescido 41,6% em abril. Os Estados Unidos, principais compradores, ainda acumulam queda de 22,4% em 2025.

Importações e consumo aparente

As importações mantiveram a trajetória de crescimento, somando US$ 10,4 bilhões no quadrimestre, alta de 11,8% em relação a 2024, a maior da série histórica para o período. Apesar da desvalorização de 16,7% do real frente ao dólar, a queda nos preços médios das máquinas importadas (-6,8%), entre outros fatores, viabilizaram o aumento do quantum importado (+19,6%).

Em abril, o consumo aparente de máquinas e equipamentos cresceu 10% frente a março (ajustado); 16,3% na comparação anual; e 21,6% no acumulado de 2025. Contudo – ressalta Zanella – “48% do consumo foi suprido por importações, ante 46% em 2024, demonstrando perda de competitividade da indústria nacional.”

A participação chinesa nas importações saltou para 33%, ultrapassando com grande folga os Estados Unidos e a Alemanha, consolidando-se como principal origem das máquinas e equipamentos comprados pelo Brasil.

O que esperar de 2025

Setores ligados à construção, infraestrutura e agricultura devem seguir impulsionando a demanda no mercado interno. “O emprego aquecido e a expansão na carteira de pedidos em abril reforçam essa expectativa”, assinala a diretora do DCEE.

Apesar da recuperação no primeiro semestre, Zanella prevê que “o setor deve enfrentar uma desaceleração mais intensa na segunda metade do ano.”

Os motivos que fundamentam essa premissa se apoiam na base de comparação elevada, uma vez que o segundo semestre de 2024 marcou o início da recuperação das receitas de vendas; e na política monetária contracionista, com manutenção das taxas de juros em nível elevado restringindo o crédito e desestimulando investimentos em capital fixo.

Esses pontos se somam, ainda, às incertezas no mercado global, com tensões geopolíticas e desaceleração em economias desenvolvidas impactando negativamente as exportações.

Resultados setoriais

A indústria brasileira de máquinas e equipamentos atende a todos os setores da economia. Seus principais mercados atualmente são o agrícola, o da construção civil e o de componentes. Juntos esses mercados respondem por pouco mais de 60% da receita liquida de vendas.

O DCEE acompanha de perto os resultados setoriais e, entre os diversos mercados da indústria de máquinas e equipamentos, o agrícola foi o que registrou o pior resultado em 2024, que se refletiu em forte redução na aquisição de máquinas e equipamentos (20% em relação ao 2023). Fatores como condições climáticas adversas, taxas de juros elevadas, redução dos preços das commodities contribuíram para esse desempenho negativo.

Houve, ainda, piora nas receitas de máquinas para infraestrutura e para a indústria de transformação; e a melhora nas atividades, apesar de ter resultado em ampliação dos investimentos, não impactou as aquisições no mercado nacional, pois, em sua maioria, foram de origem importada. “O consumo de máquinas aumentou nestas atividades, mais o produtor local, em razão da baixa competitividade, não conseguiu se beneficiar, perdendo market share para os bens de origem estrangeira”, alerta Zanella.

Além disso, o segmento de máquinas para construção deve apresentar melhor desempenho com as expectativas de melhora da agricultura que demandará infraestrutura para escoamento dos grãos. Há expectativa de continuidade de obras de infraestrutura como parte dos diversos leilões de concessões.

Consequências do crescimento das importações

O crescimento das importações tem impactos diretos na criação de emprego, renda e tributos e no desenvolvimento da economia. Há décadas, o País sofre com a invasão de produtos estrangeiros em substituição ao produto nacional. A alta dependência de importações geraram riscos adicionais associados a fatores externos, como dificuldades no abastecimento em momentos de crise global.

Este fenômeno vem sendo amplamente combatido mundo afora a partir de ações protecionistas e de ganhos de competitividade. No Brasil, as importações de máquinas e equipamentos se intensificaram nos últimos anos e, em 2024, atingiram um dos mais elevados patamares: 55% do market share nacional, tendo crescido 10,6%.

Esse cenário revela que, embora as importações tenham se mantido relativamente elevadas, o mercado interno como um todo não conseguiu absorver o mesmo volume de equipamentos que em 2013. Como resultado, houve alteração na composição do consumo aparente de máquinas e equipamentos no Brasil, com uma recomposição entre os fabricantes locais e os importados. Nesse processo, quem absorveu a maior parte da queda na demanda por máquinas foi o fabricante nacional. Isso significa que, enquanto as importações mantiveram um patamar próximo ao de 2013, os fabricantes locais enfrentaram uma contração mais acentuada, perdendo participação no mercado interno e reduzindo a produção.

Esse fenômeno pode ser explicado por diversos fatores. Um dos principais é o elevado Custo Brasil, que tira a competitividade das empresas locais. Deste modo, o enfrentamento dessa dicotomia para permitir crescimento mais equilibrado entre produção nacional e importação está na redução das assimetrias que impactam a produção local, diminuindo o custo dos insumos e do capital, além de outros fatores que compõem o Custo Brasil.