O desempenho do setor de máquinas e equipamentos sinaliza, pelos dados de setembro, que está ocorrendo normalização das atividades produtivas da indústrias representadas pela ABIMAQ, confirmando a projeção da entidade.
Os resultados – computados pelo Departamento de Competitividade, Economia e Estatística da ABIMAQ (DCEE) e apresentado em à imprensa em 28 de outubro, em entrevista coletiva on-line – mostram que a receita líquida do setor somou R$ 13,9 bilhões, crescimento de 13,3% na comparação interanual.
Com o avanço da receita também em agosto e julho, o terceiro trimestre (3T20) fechou 10,8% acima do observado no mesmo período do ano anterior.
“A forte queda da receita líquida entre os meses de março e junho, em razão da pandemia, têm sido gradativamente mitigada. Assim, no acumulado entre janeiro e setembro, o faturamento do setor encolheu apenas 1,3%”, explicou Cristina Zanella, gerente do DCEE.
Neste ano, o mercado interno tem tido papel de destaque no cenário setorial e, principalmente no segundo semestre está puxando a receita interna, que, apenas em setembro, cresceu 22,9% na comparação interanual, após avanço em agosto (16,4%) e julho (29,7%), sendo que, no acumulado do ano as receitas internas avançaram 3,5%, atingindo a casa de R$ 69,4 bilhões.
A titular do DCEE explica que, “com essa sequência de resultados positivos, as vendas internas expandiram 22,7% no 3T20. Desta forma, as retrações do mercado interno observadas no pico da pandemia foram revertidas”.
José Velloso, presidente executivo da ABIMAQ, comentou que “uma possível compensação das vendas interrompidas no auge da pandemia, uma melhora em segmentos como máquinas agrícolas e alguma substituição de importados por nacionais, ajudam a explicar tal comportamento do mercado doméstico”, frisando que os resultados só não são melhores devido à performance das exportações que, mesmo tendo melhorado em setembro – resultados 17% acima dos registrados em agosto – ainda está “24% abaixo do obtido em setembro de 2019”.
A curto prazo, Velloso não prevê evolução positiva desse quadro, pois “nossos clientes estão com problemas. Os Estados Unidos e a União Europeia estão enfrentando uma segunda onda da Covid-19; o Chile acabou de passar por eleições; e a Argentina vivencia uma crise nunca vista”.
Toda essa conjuntura pode ser mudada mais rapidamente – confia Velloso – porque “a primeira vacina a surgir afetará todos os números da economia”.
A perspectiva da vacina também traz esperanças ao setor, pois a indústria farmacêutica, os laboratórios e as instituições fabricantes de vacinas demandarão máquinas e equipamentos, em vários segmentos, incluindo embalagens.
Emprego – O aumento no número de pessoal ocupado no setor de máquinas e equipamentos é outro indício da normalização das operações. Em setembro o setor registrou 314,8 mil postos de trabalho. Este é o terceiro mês que se nota a recomposição dos empregos perdidos com a pandemia.
Como comenta Zanella, “a continuação das contrações dependerá da expansão da capacidade instalada nos próximos meses”.
Exportação – Em setembro, as receitas de exportação do setor de máquinas e equipamentos apresentaram forte queda pelo sétimo mês consecutivo: em dólar retraíram -23,7% na comparação interanual, após queda em agosto (-37,7%) e julho (-33,3%). Os sucessivos resultados negativos levaram a retração de 31,7% das receitas externas no 3T20.
Entre janeiro e setembro, as receitas de exportação recuaram 27,7%. O comércio mundial ainda restrito em decorrência da pandemia, somado ao consequente foco no mercado interno, justificam parte desse recuo das exportações de máquinas e equipamentos este ano.
O tombo das exportações em dólar é refletido em todos os segmentos que compõem o setor. Entre janeiro e setembro, as receitas de exportação retraíram mais fortemente nos segmentos: Máquinas para logística e construção civil (-42,1%); Máquinas para petróleo e energia renovável (-30,8%); e Máquinas para infraestrutura e indústria de base (-28%). O setor com menor retração este ano tem sido Máquinas para agricultura (-1,3%).
A queda das exportações também ocorre de forma generalizada nos principais destinos. As vendas em dólar para os EUA, principal parceiro comercial do setor, caíram 31% entre janeiro e setembro. Neste mesmo intervalo, as vendas para os países da América Latina retraíram 24,1%. A Argentina, segundo principal destino das exportações, acusou queda de 15,9% este ano. A menor disposição em comprar máquinas do Brasil também foi notada nos países europeus. As exportações em dólar para a Europa encolheram 31,6% nos nove primeiros meses do ano.
Importação – A desaceleração da atividade econômica, aprofundada pela pandemia, tem desestimulado as importações de máquinas.
Em setembro, as importações de máquinas e equipamentos recuaram 15,2% na comparação interanual, completando a sexta retração consecutiva. Com isso, as importações encolheram 7,4% no acumulado do ano.
Contudo, os últimos dados mostram que a desaceleração das importações tem sido cada vez menor. Portanto, a tendência é de estabilização dessa queda nos próximos meses.
O recorte por segmentos mostra que as importações cresceram em determinadas atividades entre janeiro e setembro de 2020: Máquinas para petróleo e energia renovável (3,2%) e Máquinas para infraestrutura e indústria de base (22,7%). Em contrapartida, recuaram em Máquinas agrícolas (-28,0%); Máquinas para bens de consumo (-23,1%); e Máquinas para a indústria de transformação (-19,8%).
Consumo aparente – Em setembro, o consumo aparente avançou 13,8%, puxado pelas vendas internas. No trimestre, o consumo fechou em +6,0% na comparação com o mesmo período anterior.
Ainda que as importações tenham registrado forte recuo este ano, as vendas de máquinas derivadas de produção nacional compensaram tal queda. No acumulado do ano, o consumo aparente avançou 7,4%.
Assim, a composição do consumo aparente tem sido equilibrada. Atualmente, as máquinas nacionais representam 50,9% da absorção total, enquanto as máquinas estrangeiras, 49,1%.
Nível de Utilização da Capacidade Instalada (Nuci) – Em setembro, o nível de capacidade instalada da indústria de máquinas e equipamentos registrou 75%, queda de 1,2% na comparação com o mesmo mês do ano passado, mas crescimento de 3,4% em relação ao mês de agosto.
A carteira de pedidos do setor continua oscilando em torno de 9 semanas. Em setembro, houve queda (-4,7%) em relação ao mês imediatamente anterior, de 9,5 para 9,0 semanas, mas em relação a 2019 o crescimento prevalece (+7,9%).
A produção do setor de máquinas estabiliza próximo àquela registrada no ano passado. A pandemia atingiu menos setores que já apontavam grande ociosidade produtiva.