Setor industrial impulsiona desenvolvimento econômico e social, garantem economistas

“Mais do que buscar um protagonismo anterior, o importante é que a renovação das competências industriais do País coloque nossa sociedade em uma melhor situação no futuro. A NIB não é um retorno ao passado e, por isso, o termo neoindustrialização é bastante oportuno. Estratégias desta natureza levam tempo para maturar. Estamos falando certamente de mais de um ciclo político”, constata Rafael Cagnin, economista-chefe do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI).

A solução indicada por Cagnin perpassa “o estabelecimento de acordos e consensos firmes a respeito de objetivos e metas, o que só pode ocorrer mediante trocas de ideias e debates transparentes entre setor público e setor privado em um ambiente institucional definido, a exemplo do CNDI. Estas instâncias de interação e, em certa medida, também de coordenação são vitais e devem ser fortes o suficiente para sobreviverem a mudanças de governo, realizando o acompanhamento, avaliação e revisão das iniciativas implementadas”.

Na base da reflexão do economista-chefe do IEDI, a certeza de que a NIB busca fortalecer a indústria brasileira, “impulsionando sua modernização e agregação de valor, porque reconhece no setor o papel de destacado veículo do desenvolvimento econômico e social”. Para demonstrar seu posicionamento, ele explica que os desafios sociais contemporâneos – expressos nas seis missões identificadas pelo CNDI e que integram box na página ao lado – somente podem ser enfrentados com “a constituição de formas de produção e de consumo mais coerentes com a sustentabilidade ambiental e a redução de desigualdades sociais”.

Desenvolvimento regional equilibrado, impulsionando a economia em diferentes regiões do País é lembrado por Nadja Heiderich – professora no Centro Universitário Fecap, doutora e mestre Economia Aplicada pela Universidade de São Paulo, entre outras titulações – como um dos benefícios da Nova Indústria Brasil (NIB). O sucesso, no entanto, depende de vários fatores que, mesmo com potencial de levar o setor industrial a recuperar o protagonismo perdido, não garantem o sucesso.

Multiplicidade de atores

Atenção especial é recomendada pela professora da Fecap à implementação da NIB, até por envolver “diversos setores da sociedade e requerer um esforço significativo de coordenação e planejamento; aos desafios para superar obstáculos como a burocracia, a ineficiência do Estado, a falta de mão de obra qualificada, a infraestrutura logística deficiente e o alto custo do capital no Brasil; e ao desafio da continuidade das políticas públicas em longo prazo em um contexto de instabilidade política e econômica.

Entre os fatores positivos – que conferem à NIB potencial para gerar benefícios para a economia brasileira, tais como aumento da produtividade, geração de emprego e renda, diversificação da produção industrial e desenvolvimento regional equilibrado -, Heiderich lista os cinco pilares estratégicos, que promovem uma visão holística fundamental ao desenvolvimento do setor industrial brasileiro; e o foco em áreas essenciais para a competitividade da indústria no século XXI, como a transformação digital, a sustentabilidade e a integração entre empresas e universidades.

O desenvolvimento e a difusão de inovações tecnológicas passam pela indústria, que incorpora o progresso técnico em novos insumos, bens finais e meios de produção. Neste sentido – garante Cagnin – “a NIB dá destaque à inovação e à atualização do parque industrial, com ênfase na digitalização, que é grande portadora dos ganhos de produtividade que o setor precisa”.

Lançada a NIB, em consonância com levantamentos realizados pela OCDE e FMI sobre políticas industriais e de inovação por missões, segundo este economista, apontam como primeiro resultado destas políticas a identificação de metas mais claras e objetivas.

Etapas e desafios

“Definidas as missões, entramos agora na etapa de definição dos programas mais específicos, que devem levar em consideração seu poder de impacto e transversalidade setorial, face às novas tendências mundiais”, argumenta o economista-chefe do IEDI, reconhecendo que “a coordenação entre diferentes agentes públicos, distintos instrumentos e entre setor público e setor privado é um desafio que todos os países estão enfrentando. Contudo, a implementação deve acontecer de forma coordenada, reunindo um número maior de agentes privados e públicos em torno das missões e gerando comprometimento das partes”.

Na visão de Cagnin, para que haja coerência, “é importante ter programas com impactos mais imediatos no dia a dia das empresas, a exemplo de algumas ações de redução do custo brasil ou as do Brasil Mais Produtivo, associados aos programas com efeitos em mais longo prazo”

Nadja Heiderich, professora no Centro Universitário Fecap, doutora e mestre Economia Aplicada pela Universidade de São Paulo, entre outras titulações, defende trabalho conjunto, monitoramento e avaliação contínua, assim como flexibilidade e adaptabilidade às mudanças do cenário global e às necessidades específicas do setor industrial brasileiro são ingredientes fundamentais à busca de consolidação da NIB.

Na contramão, burocracia e ineficiência do Estado; falta de mão de obra qualificada para operar as novas tecnologias e processos produtivos; necessidade de adaptação do sistema educacional brasileiro para atender as futuras demandas da indústria 4.0; infraestrutura logística deficiente; alto custo do capital no Brasil; instabilidade do ambiente político e econômico, responsável por incerteza e insegurança jurídica, o que pode desestimular investimentos na indústria são aspectos sinalizados por Nadja Heiderich como passíveis de frustrarem os mais otimistas, “protelando a adoção de práticas mais sustentáveis, a integração entre empresas e o desenvolvimento regional equilibrado”.

A professora da Fecap conclama universidades e centros de pesquisa a cumprirem seu papel fundamental na geração de conhecimento e inovação para a indústria e pede que sejam fortalecidas as parcerias entre o governo, as empresas e as universidades para impulsionar a competitividade da indústria brasileira. E conclui: “É importante monitorar e avaliar a NIB de forma contínua para garantir que esteja alcançando seus objetivos, e os resultados da avaliação devem ser utilizados para aprimorar a iniciativa e adaptá-la às necessidades do setor industrial brasileiro”.