No cenário do agronegócio, uma iniciativa é referência para outros setores devido ao sucesso obtido. Trata-se do Sistema Campo Limpo – gerido pelo Instituto Nacional de Processamento de Embalagens Vazias (inpEV) – responsável pela destinação ambientalmente correta das embalagens vazias e sobras pós-consumo no Brasil, processo estabelecido pela Lei Federal nº 14.785/23 e o Decreto Federal 4.074/02.
Essa instituição sem fins lucrativos, formada por mais de 195 fabricantes e entidades representativas da indústria, canais de distribuição e agricultores, coleta, higieniza, inutiliza e dá destinação às embalagens de maneira sustentável, evidenciando o impacto positivo do Sistema no meio ambiente e na sociedade, com apoio e fiscalização do poder público. Apenas em 2024, foi registrado aumento de 27% quando comparado com o mesmo período anterior, totalizando 68,5 mil toneladas de embalagens devolvidas pelos agricultores.
Com esse resultado, o Brasil celebra um feito histórico na preservação ambiental e reforça a liderança do País como referência mundial em logística reversa neste setor: o Sistema Campo Limpo ultrapassou a marca de 800 mil toneladas de embalagens vazias de defensivos agrícolas destinadas de forma ambientalmente correta desde o ano de 2002, quando do início da operação.
A receita do sucesso está na forma de atuação. O Sistema está presente em todo o Brasil e conta com 416 unidades de recebimento, onde os agricultores podem devolver as embalagens vazias. Há ainda a possibilidade dessa entrega ser feita nos Recebimentos Itinerantes, que ocorrem em regiões distantes das unidades de recebimento e visam a atingir os pequenos produtores. Além disso, a cadeia reúne indústria fabricante, registrante, canais de distribuição, agricultores e poder público; reúne mais de 256 associações de revendas e cooperativas e atende cerca de 2 milhões de propriedades rurais em todo o País, de acordo com o censo agrícola de 2017.
Hoje, o Sistema Campo Limpo “é um dos maiores exemplos globais de sucesso em sustentabilidade, gerando impactos ambientais, sociais e econômicos significativos. Um marco tão significativo é motivo de muito entusiasmo para nós”, afirma Marcelo Okamura, diretor-presidente do inpEV, e ressalta: “A reciclagem das embalagens vazias de defensivos agrícolas é parte importante do fluxo do Sistema Campo Limpo, garantindo que esse material tenha uma nova vida útil em aplicações sustentáveis, como a produção de novas embalagens e outros produtos plásticos.”
Esse processo – enfatiza Okamura – “depende de tecnologia avançada e equipamentos de alta performance, que permitem transformar resíduos em matéria-prima qualificada para a indústria. O Brasil é referência global em logística reversa, e a inovação no setor de máquinas e equipamentos tem sido essencial para ampliar nossa eficiência e sustentabilidade. Seguimos investindo em novas soluções e parcerias para fortalecer a economia circular e consolidar ainda mais o impacto positivo do Sistema Campo Limpo no meio ambiente e na sociedade.”
Para alcançar suas metas, o inpEV continua expandindo suas operações com foco na inovação e em novas parcerias. Para 2025, o Instituto projeta aumentar a cobertura do Sistema em novas regiões, ampliar os índices de reciclagem, impulsionar a conquista de novas certificações em sustentabilidade e consolidar o Brasil como protagonista global em economia circular.
Algumas iniciativas
Cada dia aumenta o número de projetos de sustentabilidade e de empresas que passam a desenvolver programas voltados a reduzir o impacto no meio ambiente e a emissão dos gases de efeito estufa.
Nesse grupo, por exemplo, está a Scania, que, em novembro de 2024, informou sua decisão de utilizar plástico reciclado na produção das grades frontais dos caminhões (T-bone). Com a mudança, a empresa contribuirá para que 1,5 milhão de garrafas PET sejam recicladas anualmente, se considerada a produção de 30 mil veículos/ano.
Quando a nova composição de matérias-primas da grade frontal das cabinas englobar 100% dos veículos fabricados pela Scania no Brasil, o que é esperado para 2025, será evitada ainda a emissão de 62 toneladas/ano de CO2 na atmosfera, considerando a queima dos resíduos plásticos (um tipo de descarte) e o transporte via navio das importações do PET dos Estados Unidos para compor os insumos no Brasil.
Outros benefícios envolvem redução de 11% de CO2 por quilo produzido, em comparação com material virgem, e economia de 16% de energia por quilo produzido.
Empresa própria – Há mais de dez anos, a JBS criou a Ambiental, unidade de negócios especialista em gerenciamento e tratamento de resíduos sólidos pós-industriais recicláveis e não recicláveis, além do resíduo pós-consumo do agronegócio, que opera 23 unidades no Brasil. Entre os resultados, destaque para o marco histórico de 6 mil toneladas de plásticos reciclados em apenas em 2024. Os novos produtos gerados atendem as próprias empresas da Companhia e do mercado. Do total do ano passado, 66% foram destinados para insumos industriais e 34% para produtos plásticos.
Com isso, ao longo de sua operação, a empresa foi responsável pela reciclagem de mais de 46 mil toneladas de resíduos plásticos, provenientes das operações das unidades de negócios da JBS.
Outro marco alcançado pela empresa foi o volume recorde na produção de resina reciclada, que registrou um crescimento de 12% em comparação a 2023, totalizando 4,1 mil toneladas de matéria-prima. Esse material foi utilizado na fabricação de produtos sustentáveis, como sacos plásticos, bobinas, lonas, embalagens protetoras, paletes, resinas, móveis, telhas e pisos, contribuindo para a redução do uso de recursos naturais e fortalecendo o modelo de economia circular do plástico.
Aditivo em ação – A empresa brasileira IQX, fundada em 2011 por duas cientistas brasileiras, oferece soluções inovadoras para a reciclagem e valorização do material. Somente entre 2024 e 2025, a adoção dos aditivos IQX por clientes produtores de embalagens evitou o descarte de cerca de 800 mil quilos de plástico.
A empresa nasceu com o propósito de ressignificar o plástico por meio da aditivação. O diferencial da empresa está na capacidade de melhorar a qualidade do material reciclado e inserir novas funcionalidades ao plástico, como resistência mecânica, proteção bactericida e condutividade. A cada 20 kg do aditivo IQX FLEX, por exemplo, é possível viabilizar a reciclagem de 1 tonelada de embalagens multicamadas, que antes tinham como destino aterros ou incineração.