A indústria de máquinas e equipamentos contribui no debate e na ação
O debate mundial sobre novos combustíveis vinculado à questão ambiental não sofrerá interrupção, ao contrário, deve ser acelerado, e o Brasil não pode se abster. Multisetorial e multidisciplinar, a temática se amplifica e começa a se inserir no cotidiano da indústria brasileira de máquinas e equipamentos. A expectativa é que consolide-se em dez anos.
“Mobilidade elétrica e hidrogênio são as principais tendências, principalmente nos Estados Unidos e na Europa”, afirma Camilo Adas, presidente da SAE Brasil, citando o Web Fórum SAE Brasil, realizado em dezembro de 2020, com o tema central “O futuro da mobilidade conectada – da energia à sustentabilidade”.
Como pano de fundo dessa discussão estão avanços em Inteligência Artificial, conectividade, ferramentas de simulação e desenvolvimento, associados à injeção de recursos para melhorar o crescimento da inovação. A resposta, assinalada por Adas compreende uma avalanche de novas tecnologias, e cada mercado selecionará as que melhor atenderem as suas necessidades.
“Não dá mais para o Brasil viver olhando para outros continentes e assimilar o que acontece lá, porque nem sempre o que está em voga em outros países se aplica ao mercado brasileiro. Tem de saber o que acontece em pesquisa, desenvolvimento e inovação e valorizar a matéria energética brasileira, que já é sustentável e dispõe de opções mais livres de CO2, como etanol e biomassa, que são substitutos intermediários aos combustíveis fósseis”, alerta Adas.
De acordo com o presidente da SAE Brasil – entidade com a missão de disseminar técnicas e conhecimentos relativos à tecnologia da mobilidade nos modais automotivo, ferroviário, aéreo e naval – todo esse contexto inclui a indústria de máquinas e equipamentos e, consequentemente, a ABIMAQ, uma vez que “o debate não pode acontecer na arena mercadológica, deve garantir a socialização do conhecimento”.
Essa necessidade de a indústria nacional – em praticamente todos os setores da econômica – precisar gerar inovação, participar ativamente dos destinos e mudar sua visão de curto para longo prazos, tornando-se criativa para descobrir como fazer parte do jogo, é compartilhada por Danilo Lapastini, presidente do Conselho Automotivo da ABIMAQ, que em 2020 deu início, com a nova Diretoria, “à preparação de um plano de trabalho, principalmente nas oportunidades de nacionalização de peças e componentes, que a pandemia irá (e já está) nos trazendo”, afirma, referindo-se ao projeto Made in Brasil Ilimitado – MiBi.
O presidente do Conselho Automotivo, fundamentando a atenção que a indústria de máquinas e equipamentos vêm dedicando ao desenvolvimento de tecnologias e ao acompanhamento de novos combustíveis e mobilidade, cita entre os instrumentos do órgão a existência de grupos de trabalho específicos para tecnologia futura, tecnologia de manufatura, mobilidade inteligente; e veículos elétricos.
Mercado e perspectivas: realidade melhor do que as previsões
Mas, para investir e desenvolver tecnologias é preciso capital, pessoal técnico e compradores. Nesse quesito o Conselho dá suporte a seus filiados no âmbito técnico e de entendimento do mercado. “Temos hoje no Conselho três grupos de trabalhos basicamente atuando em projetos que tragam oportunidades e preparem nossas indústrias e nossos profissionais, para que possamos agarrar com força total as oportunidades que virão, pós-pandemia”, comenta Lapastini, que acredita em retomada da atividade e de vendas de automóveis no mesmo patamar de 2019.
A queda foi brusca e a retomada também está sendo, garante o presidente do Conselho Automotivo da ABIMAQ: “O mercado de máquinas e equipamentos que atende a cadeia automotiva iniciou 2020 muito bem, com forte crescimento, basicamente primeiro trimestre ótimo. No entanto, essas fabricantes sofreram praticamente o mesmo impacto das montadoras, pois, com o lockdown, as indústrias fecharam durante um período e ainda mantiveram muitas restrições a visitas técnicas e comerciais, impossibilitando o desenvolvimento de novos projetos”.
Ressaltando exceções, como fabricantes voltados a nichos de mercado menos impactados pela pandemia, Lapastini tem a percepção de que, “superdimensionamos a crise. Não que não tenha impactado, pelo contrário, mas foi algo passageiro. O maior problema talvez esteja no endividamento feito pelo Governo a fim de auxiliar a população durante a crise, isto sim deverá ser muito bem trabalhado, para que o impacto não seja muito maior do que a própria pandemia nos trouxe. A falta de alguns insumos importantes tem feito os preços subirem de maneira assustadora, o Governo precisa agir rápido, para que a inflação não se torne algo incontrolável”.
Os números divulgados em 9 de janeiro pela Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) – dois dias antes do anúncio do fechamento das fábricas da Ford no Brasil e cerca de um mês após a Mercedes-Benz comunicar o encerramento da produção de automóveis no Brasil – mostram posição semelhante à de Lapastini. Segundo a Carta da Anfavea, “no acumulado do ano, os números apresentaram quedas acentuadas, mas não tão drásticas como se projetava no início da pandemia”.
“A grande injeção de recursos emergenciais na economia e a força do agronegócio ajudaram a amenizar as perdas do segundo trimestre, quando boa parte das fábricas e lojas permaneceram fechadas. As vendas ao mercado interno fecharam com 2.058.437 unidades, queda de 26,2%, recuando ao patamar de 2016, auge da última crise econômica brasileira.”, explica Luiz Carlos Moraes, presidente da Anfavea.
Os números são impactantes. O tombo veio quando era projetado crescimento de 10%, e a realidade mostra que, em 2020, a produção recuou 31,6%, atingindo patamares de 16 anos atrás, mas o crescimento estimado de 25% em 2021 recuperará parte da perda. Além disso, pesquisa realizada em dezembro pela Anfavea em parceria com a Webmotors, com 2.103 usuários do site, de todas as regiões do País, detectou a intenção de 96% dos respondentes de comprar e/ou trocar o veículo em 2021.
Em que pese o número absoluto do ano, o mês de dezembro “foi o melhor em vendas de autoveículos no ano (243.967 unidades), com média diária de 11,6 mil unidades. A produção de 209.296 unidades em dezembro foi uma boa surpresa, apesar de todos os desafios logísticos, das limitações de insumos e dos protocolos sanitários. Mas, na comparação com 2019, apenas fevereiro de 2020 teve média de vendas superior, apesar da recuperação de mercado verificada no segundo semestre”, informa a Carta da Anfavea.
As vendas para o mercado externo de 324.330 de unidades também mostram retrocesso e são consideras por Moraes como as piores desde 2002, um retrocesso de quase duas décadas: “Em valores, a receita de US$ 7,4 bilhões foi menos da metade do que se exportou em 2017 (US$ 15,9 bilhões)”.
Em ritmo contrário seguiu o segmento de caminhões, impulsionado pelo agronegócio e pelo crescimento do e-commerce, foi o que teve as menores perdas entre os autoveículos, com queda de 11,5% nos licenciamentos em relação a 2019. Comerciais leves caíram 16%, automóveis 28,6% e ônibus 33,4%. Já as máquinas agrícolas e rodoviárias venderam 7,3% mais que no ano passado.
A indústria “fez um grande esforço para atender a demanda, trabalhando aos finais de semana e suspendendo parte das férias coletivas, mas entra em 2021 com os estoques mais baixos de sua história, suficientes apenas para 12 dias de vendas”, ressaltou Moraes. Em outras palavras: a produção de 2.014.055 autoveículos encolheu 31,6%, deixando a indústria automobilística com uma ociosidade técnica de quase 3 milhões de unidades.
“Nunca foi tão difícil projetar os resultados de um ano, pois temos uma neblina à nossa frente desde março, quando começou a pandemia”, explica Luiz Carlos Moraes. A entidade prevê aumento de 15% no licenciamento de autoveículos, 9% nas exportações e 25% na produção, índices insuficientes para a retomada a patamares de 2019, pré-pandemia. Para máquinas, a expectativa é de crescimento de 7% nas vendas, 9% nas exportações e 23% na produção.
Implementos – O setor produtor de implementos rodoviários, por sua vez, obteve resultado semelhante ao apurado em 2019. Como um todo, registrou em 2020 variação positiva de 0,77% com relação a 2019, informa a Associação Nacional dos Fabricantes de Implementos Rodoviários (Anfir), mas o segmento Leve (Carroceria sobre chassis) apresentou retração de 5% e o de Reboque e Semirreboques ficou 6% acima do volume de 2019.
“O resultado mostra como o mercado reagiu em alguns segmentos cujo resultado foi a estabilização das perdas de forma geral”, analisa Norberto Fabris, presidente da Anfir, creditando a performance ao bom desempenho de setores como agronegócio, responsável por mais de 40% dos negócios no segmento Pesado; construção civil, com a retomada de lançamentos residenciais e obras de infraestrutura; e transporte de remédios e alimentos foram os principais responsáveis pela recuperação da indústria.
“No próximo ano, a expectativa é que mais segmentos se juntem a esses pilares da recuperação do setor e reajam positivamente” diz Fabris, prevendo, em 2021, “registrar crescimento entre 8% e 10%”.