Transformadores em transformação: o plástico na pauta da inovação

Uma cadeia produtiva interdependente no contexto mais abrangente possível: as máquinas sofrem alterações porque os transformadores solicitam alterações no projeto que, por sua vez, sofrem demanda tanto do mercado (cliente e usuário do plástico em todas as suas nomenclaturas e variáveis), quanto dos fabricantes de matéria-prima, nas múltiplas variáveis existentes – polímeros derivados da nafta, de fontes renováveis, termorrígidos, termofixos ou termoendurecidos – resumidos em siglas que simbolizam fórmulas e compostos que são segredos industriais resultantes de investimentos contínuos.

Nomenclaturas e fórmulas à parte, os fabricantes de máquinas de equipamentos, de acordo com Gino Paulucci Júnior, presidente da Câmara Setorial de Máquinas e Acessórios para a Indústria do Plástico (CSMAIP, da ABIMAQ), não interferem diretamente na evolução das aplicações, combinações e possibilidades de reciclagem, mas participam ativamente do processo, afinal, “quem inova no plástico é o setor de transformação. A indústria de máquinas é demandanda pelos seus usuários, que solicitam as alterações e nós as adequamos às necessidades de velocidade, densidade etc. Ao setor cabe investir continuamente em produtividade e eficiência energética”.

E, quando o assunto é transformação, algumas novas aplicações estão movimentando o mercado, abrindo espaço para novos atores. Cresce, por exemplo, o espaço para aplicações em saúde e medicina, náutico e aeroespacial, que se agregam a construção civil, alimentos e bebidas, automobilística, saneamento básico, embalagens e bens duráveis (eletrodomésticos, automóveis, eletroeletrônicos e utilidades domésticas).

Além disso, consolida-se a possibilidade de produtos plásticos substituírem outros materiais como o vidro, em bebidas, cosméticos e utilidades domésticas. O segmento de soluções para embalagens feitas de polímero inteligente também se populariza, assim como o mercado de impressão 3D, que – estima a Braskem –, nos próximos cinco anos deve quintuplicar e atingir a marca dos US$ 26 bilhões, gerando oportunidades para o segmento de moldes plásticos, que deverá ficar mais barato e apresentar melhor performance.

Essas condições, na visão de José Ricardo Roriz Coelho – presidente da Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast) – fazem “a indústria do plástico ser o quarto setor industrial que mais emprega no Brasil, contando com quase 313 mil trabalhadores, em 2018. Dados do IBGE sinalizam que, no último ano, a indústria registrou aumento de 0,8% na produção de transformados plásticos. Embora o crescimento tenha sido abaixo das expectativas para o período, acreditamos que o pior momento ficou para trás. Para 2019, temos a expectativa de que o setor continue a se recuperar gradualmente, crescendo cerca de 2,5% no ano. Ainda assim, estimamos que o volume de produção física visto em 2013, pré-crise, somente seja alcançado em 2023”.

Dados publicados pelo Sindicato da Indústria de Material Plástico do Estado do Rio de Janeiro (Simperj) informam que são mais de 11.500 empresas transformadoras atualmente em atividade – sendo 73% microempresas – com faturamento anual ao redor de R$ 62 bilhões. Com 70% das empresas comercializando materiais como sacarias industriais, sacolas de supermercado e frascos nos gerais, cabendo aos demais 30% a fabricação de filmes técnicos para alimentos, filmes FFS, não-tecidos e frascos multicamadas, entre outros produtos, 2019, deve possibilitar o dobro do crescimento alcançado em 2018, com um aumento de 4 a 5% da indústria de transformação do plástico, com desafios já conhecidos, como agregação de valor, por meio de tecnologia, personalização e design.

Economia circular e novas percepções

Edison Terra Filho, coordenador da Comissão de Resinas Termoplásticas (Coplast) da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim), lembrando a necessidade de reduzir o impacto no meio ambiente e consequentemente a percepção negativa da sociedade, frisa a importância do avanço da indústria para o desenvolvimento de uma economia circular, “em que a escolha da matéria-prima sustentável seja priorizada, o design do produto considere a viabilidade da reciclagem, haja menor utilização de recursos naturais durante a produção, seja ampliada a conscientização do consumidor para a disposição adequada dos resíduos recicláveis, e que um novo início de ciclo produtivo ocorra por meio da reciclagem, transformando o resíduo em matéria-prima para um novo processo produtivo”.

“As indústrias estão trabalhando em inovação, novos produtos e engajamento da cadeia para desenvolvimento da economia circular. O Manual de Pellet Zero é um exemplo de atuação de toda a cadeia para evitar o vazamento de pellet para o meio ambiente”, comenta Terra, citando publicação criada cooperativamente por instituições, empresas, institutos de pesquisa, entre outros, e disponível no portal http://porummarlimpo.org.br. “Muitas marcas reconhecem o valor da contribuição do plástico verde e o utilizam para reduzir a pegada de carbono de seus produtos. As resinas que possuem conteúdo renovável têm conquistado espaço relevante, não só em economias mais desenvolvidas como Japão, Europa e EUA, mas também no Brasil”, reforça.

Outro aspecto decorre dos investimentos da indústria transformadora e química em pesquisa e desenvolvimento de performance industrial e de produtos sustentáveis, como os de fonte renovável, os de maior performance e utilização de recursos naturais e os com conteúdo reciclado, além de reciclagem química, ou seja, transformação de resíduo plástico em combustível ou novos químicos.

O coordenador da Coplast da Abiquim, garante: “o Brasil está na liderança do desenvolvimento de produtos de fonte renovável, e promove também resinas com maior performance que reduzem o volume de plástico nas embalagens. Isso é bem divulgado, de nada adianta investir em P&D nem adianta demonstrar o quanto o plástico reduz o desperdício de alimentos, aumenta a segurança hospitalar, reduz a emissão de gases do efeito estufa, se for deixado de lado o debate principal, que é a gestão de resíduos e o descarte inadequado que polui o meio ambiente”.

A busca por soluções mais sustentáveis – garante Terra – é permanente, mas avaliar a sustentabilidade das soluções é algo complexo. “Deve-se avaliar diversas dimensões. Hoje, existe um foco muito grande na questão de eliminação de resíduos. Mas ao olhar só este ponto, corremos o risco de buscar uma solução que, ao eliminar resíduos, consuma mais energia, mais água ou tenha uma pegada de carbono pior. A avaliação do ciclo de vida dos materiais e soluções é essencial para que as escolhas sejam feitas de forma consciente, minimizando impactos ao meio ambiente”, alerta o coordenador da Coplast.

Para as indústrias representadas pela ABIMAQ, o importante é que – independentemente de a agenda envolver economia circular, círculo virtuoso da produção, eliminação de resíduos de forma sustentável – o setor de máquinas e equipamentos é representado em todos os elos, beneficiando os associados da CSMAIP antenados com as tendências e as inovações.