O sucesso do leilão realizado pela Pré-Sal Petróleo, em 31 de agosto de 2018, na B3 – Bolsa, Brasil, Balcão, combinação entre a BM&F Bovespa e a Cetip –, relativo à produção proveniente da Área de Desenvolvimento de Mero (Contrato de Partilha de Libra) e dos Campos de Lula e Sapinhoá, na bacia de Santos, que deverá injetar recursos totais da ordem de R$ 3,260 bilhões para os cofres da União, por meio do Fundo Social, Educação e Saúde, a cada retirada de carga, fortalece a posição das reservas de petróleo e gás do pré-sal como estimuladoras do desenvolvimento do setor.
O pré-sal vem respondendo também por mudanças significativas na operacionalização do setor, como o marco regulatório que, ao tirar da Petrobras a primazia de operador único, abriu espaço para a entrada de novos atores no mercado brasileiro. Além disso, as empresas fornecedoras para o setor de Petro & Gás também se sentem estimuladas por questões relativas à conteúdo local, em fase de regulamentação e que garantirão a participação de empresas brasileiras e instaladas no Brasil nas oportunidades e nos investimentos futuros; lei do gás; regularidade nos leilões; programa RenovaBio; retomada da exploração em campos terrestres; aumento do fator de recuperação; e incremento no volume das reservas do pré-sal, entre tantos outros temas presentes no dia a dia do segmento de Petróleo e Gás. Permeando esses assuntos está o otimismo do empresariado e do empreendedor, combustível indispensável à vida e ao desenvolvimento das empresas privadas.
Os resultados da Petrobras no primeiro semestre também estimulam o setor. Como divulgado pela companhia, foi obtido lucro líquido de R$ 17 bilhões, com queda de 13% no endividamento líquido em relação a dezembro de 2017, para US$ 73,66 bilhões. No período, o desempenho das operações da empresa manteve a tendência positiva que vinha sendo registrada em trimestres anteriores, com lucro operacional 18% maior que o do primeiro semestre de 2017, totalizando R$ 34,5 bilhões, com menores despesas gerais e administrativas e menores gastos com ociosidade de equipamentos. A produção total de óleo e gás foi de 2,7 milhões barris de óleo equivalente por dia (boed) no semestre, em linha com a meta estabelecida para 2018.
Os destaques operacionais, segundo informações da Petrobras, foram a entrada em operação do primeiro sistema de produção na área da cessão onerosa, a P-74, no campo de Búzios, e um novo sistema de produção na Bacia de Campos, com o FPSO Cidade Campos dos Goytacazes, no Campo de Tartaruga Verde. Outro destaque foi a chegada da P-67 ao Brasil, que será a oitava plataforma a operar nos campos de Lula e Cernambi. Desde 2017, a Petrobras aumentou em 31% a sua área exploratória, com aquisições nas rodadas de licitações da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), priorizando as de maior potencial nas Bacias de Campos e Santos.
O gerente geral de Estratégia de Gestão e Contratação de Fornecedores da Petrobras, Dimitrios Chalela Magalhães, comenta que no Plano de Negócios e Gestão da companhia para os anos de 2018 a 2022, a previsão de investimentos é da ordem de US$ 75 bilhões, “sendo a previsão de dispêndio em gastos operacionais gerenciáveis estimados em US$ 137 bilhões, com significativa parte deles voltados às atividades de manutenção”. Destaca, ainda, que, “apenas no segmento de Exploração e Produção, a Petrobras prevê, entre os anos de 2018 e 2022, a entrada de 19 novas Unidades Estacionárias de Produção que irão demandar as empresas de máquinas e equipamentos desde a fase de investimentos até o término das suas operações”.
Em resposta a esse conjunto de resultados, “o mercado olha com certo otimismo para o futuro, as oportunidades estão vindo e virão no médio e longo prazos em razão de todos os movimentos que foram feitos, mas é preciso ser competitivo. Por exemplo, não adianta falar de conteúdo local se não estiver atrelado a um viés de competitividade. Vemos um horizonte de oportunidades que virão a médio e longo prazos, mas as empresas precisam se mobilizar agora, estar prontas para quando a oportunidade se concretizar”, resume Diego Reis Melo, presidente da Câmara Setorial de Equipamentos Navais, Offshore e Onshore da ABIMAQ – CSENO.
O diretor executivo de Petróleo, Gás, Bioenergia e Petroquímica da ABIMAQ (organismo que tem o objetivo de dar suporte às atividades relativas ao setor de Petróleo e Gás da entidade), Alberto Machado Neto, resume as expectativas ao afirmar que “estamos falando de uma fase diferente em relação ao que aconteceu nos últimos quatro anos, quando houve parada total de expectativa, com desarticulação de muitas empresas. Em 2016, o governo trabalhou fortemente para reativar o setor, atraindo empresas para os leilões, mas com a mudança na legislação, que mexeu nos níveis de conteúdo local, exigiu organização do setor privado para revisão dos padrões definidos. Esse debate começou em 2016 e, em 2018, fechamos o assunto, que está em fase de regulamentação, mas conseguiu-se a retroação, desses leilões que vão de 2005 a 2013, uma solução intermediária, a critério da empresa de petróleo, que pode continuar como estava ou seguir as novas regras, e conseguimos negociar que a unidade estacionária de produção – que pode ser um navio ou uma plataforma – tenha um conteúdo local definido e separado – 40% de máquinas e equipamentos, 40% de construção e montagem e 40% de engenharia”.
E os números sinalizam a assertividade das reinvindicações. Hoje, segundo dados do Ministério das Minas e Energia, 280 contratos – correspondente a 345 blocos – pediram aditivo contratual para as nova regras de conteúdo local que, em linhas gerais, prevê o fornecimento de 40% das máquinas e equipamentos (que correspondem a cerca de 30% do investimento total) de fabricação no Brasil, ou seja, 12% do total fornecido é conteúdo local. “Ganhamos no volume, e os valores, se considerarmos o que está previsto em termos de investimento (R$ 500 bilhões), é muito mais do que tivemos historicamente”, comenta Machado, creditando a vitória ao movimento Produz Brasil, que uniu sete federações e sete entidades de classe, com a liderança da ABIMAQ.
A procura, ao discutir conteúdo local, explica o diretor executivo, não é por protecionismo, mas porque a empresas que estão vindo para o Brasil têm alguns motivos para comprar lá fora. Primeiro, porque já têm seus fornecedores tradicionais e mesmo que eles estejam aqui – a maioria está aqui – as contratantes preferem comprar com as pessoas que já têm contatos, algumas empresas têm centros de compras centralizados e outras usam suppliers credits vinculados ao conteúdo local em seus países de origem. Se não tiver uma cláusula que force comprar aqui, não vão comprar nunca”.
“Em paralelo, também conseguimos introduzir nosso nível no Repetro, pois durante os 20 anos de vida do Repetro, estávamos alijados do processo. Vendíamos para o elo de cima – estaleiro ou epecista – com isenção, mas não comprávamos com isenção e não tinha como compensar, transformando o imposto em custo. Em fase de regulamentação, a entrada no Repetro dará isenção na compra e na venda e, com isso, a ABIMAQ teve mais uma conquista na busca de aumentar a competitividade da indústria brasileira”, comemora Machado.
Presente e futuro animadores
Indubitavelmente, o pré-sal é a grande oportunidade e proporciona o desenvolvimento de novas tecnologias. “Sem ele, haveria investimentos muito menores em revitalização e aumento de produção, mas com o pré-sal temos novas unidades de produção. Olhamos para a frente e trabalhamos com números de aproximadamente 25 novas plataformas de petróleo com capacidades absurdas, de 180 mil, 200 mil, o que representa muita tecnologia e muito investimento”, prevê Melo.
Cientes da importância de não perder a expectativa de melhoria, mantendo-se atualizadas e preparadas para a retomada, as empresas brasileiras e internacionais instaladas no Brasil, em termos de tecnologia, tanto importadas, quanto desenvolvidas aqui, estão atualizadas, constata Melo, ressaltando imprescindibilidade de investirem em desenvolvimento tecnológico para crescerem e atenderem as novas exigências do mercado e as novas regras do conteúdo local, tão logo seja regulamentado. “Os negócios devem melhorar a médio prazo, devido ao mercado de produção, e os investimentos devem vir em um prazo de quatro a cinco anos a contar das rodadas de negócio, e as oportunidades para a cadeia de fornecimento vão aparecer nos próximos três a quatro anos”, prevê o presidente da CSENO.
Complementando Melo, o diretor executivo de Petróleo, Gás, Bioenergia e Petroquímica da ABIMAQ destaca que “tecnologicamente estamos muito bem, até melhor do que lá fora, porque as empresas estão perto do laboratório, principalmente em subsea. Com isso, a indústria precisa manter-se atualizada e investindo em pesquisa e desenvolvimento porque a evolução é constante.
Tradicionais fornecedoras para o setor, ABB, Cummins e WEG confirmam o otimismo do setor.
Para a ABB – como informa Maurício Cunha, gerente de Óleo, Gás e Química da companhia –, a previsão de novos leilões e perspectivas de novos projetos levam à previsão de retomada da atividade. Percepção semelhante é descrita por Mariana de Souza Lima Rizzi Privetta, supervisora financeira na Cummins Brasil. “Em 2018, estamos registrando algum movimento, mas abaixo de nossa perspectiva, devido à instabilidade política. Trabalhávamos com 10% de recuperação sobre 2017, mas devemos fechar na casa dos 5%”, informa Privetta, comentando que para 2019 há expectativa de resultados melhores.
As atuais condições do setor – para Cunha – “mostram-se bastante atrativas para players globais como Equinor, Shell, BP, Exxon Mobil, entre outros, assim como tem determinado a retomada da Petrobras como investidor e operador no offshore“.
As perspectivas positivas levam a ABB a seguir “com sua estratégia de investimento no País, aproximando-se cada vez mais de seus clientes, suportando-os no desenvolvimento e na viabilização dos projetos, com engenharia e novas tecnologias que devem posicionar o setor de petróleo e gás brasileiro como um dos mais modernos e eficientes do mundo”, destaca Cunha, listando a digitalização do segmento de petróleo e gás e a tecnologia de eletrificação para extração em águas ultraprofundas como tendências tecnológicas.
Elder Stringari, gerente do Departamento de Desenvolvimento de Negócios Petróleo & Gás da WEG, comenta que “muitos projetos receberam decisão final de investimento desde o final de 2017, inclusive no Brasil”, levando a investimentos que estavam paralisados ou haviam sido adiados. Por isso, 2018 já se mostra melhor que o ano passado e 2019 deverá continuar nesta tendência positiva”.
Essa retomada, de acordo com Stringari, está vinculada ao “preço do petróleo, que se mantém em patamar que justifica diversos investimentos” e se materializada em encomendas “importantes para a WEG , principalmente para projetos de gás natural no Exterior e para as novas FPSO afretadas pela Petrobras”.
O mercado internacional, aliás, contribuiu substancialmente para os resultados da WEG nos últimos três anos. “Felizmente, estávamos preparados com tecnologia e produtos competitivos internacionalmente. Um bom exemplo vem dos nossos motores de grande porte com corrente de partida reduzida aplicados a compressores de gás natural que permitem simplificar o equipamento necessário para a partida do compressor”, explica o gerente da WEG, citando como tendência no offshore a transferência de partes do processo da plataforma para o leito marinho através da utilização de equipamentos subsea, assim como o monitoramento remoto de equipamentos para que se possa prever e prevenir eventuais falhas e perda de produção”.