Foto: Ricardo Teles/Vale
Ao encerrar o exercício de 2021, a Vale entrou em seu 80º ano de operação, comemorando, além do aniversário, os resultados históricos, mesmo com os desafios de preços de minério de ferro em queda. No período, o lucro líquido da mineradora somou US$ 22,4 bilhões, total 360% superior ao de 2020. Em moeda brasileira, esse resultado corresponde a R$ 121,2 bilhões e representa elevação de 353% na comparação com 2020.
“Em um ano ainda marcado pelos persistentes efeitos da pandemia de Covid-19 e volatilidade dos mercados, fomos capazes de atingir significantes marcos na criação de valor sustentável a nossos stakeholders. Em linha com nosso novo pacto com a sociedade, avançamos na reparação de Brumadinho e Mariana e reforçamos nosso apoio à luta contra a pandemia. Também anunciamos nossos investimentos em redução de emissões e definimos nossa ambição social de criar um legado de educação, saúde e renda nas comunidades em que operamos”, comentou Eduardo Bartolomeo, presidente, no momento da divulgação dos resultados financeiros do ano.
Em seu pronunciamento, o presidente da Vale também falou sobre segurança e sustentabilidade: “Estamos trabalhando de forma mais segura devido à implementação do VPS (sigla em inglês para Vale Production System, que corresponde à Política do Modelo de Gestão Vale, que se aplica à Vale e às suas controladas 100% em todo o mundo), ao descomissionamento de nossas barragens a montante e ao alinhamento com os padrões do GISTM (Padrão Global da Indústria sobre Gestão de Rejeitos, implementado em 2019). Estamos também recuperando nossa capacidade de produção em minério de ferro e metais básicos, estabelecendo as fundações para criar e distribuir valor de forma consistente”.
Consistência, investimentos e desafios fazem parte da história da Vale, que se confunde e converge com a deste país. Foi obra da empresa, por exemplo, a construção do mais moderno porto do Brasil da década de 1960, o Porto de Tubarão, no Espírito Santo; a descoberta “acidental” da maior mina de minério de ferro do mundo, em Carajás (PA), que iria mudar o destino da região, entre outras obras. Em termos de retorno para o País, foi a empresa que mais gerou superávit para a balança comercial nos anos 2000, valores essenciais ao pagamento da dívida externa do País, que por alguns anos constituiu-se grande preocupação nacional.
A grandiosidade da Vale foi construída ao longo desses 80 anos de atividade, período em que conquistou títulos importantes e não diretamente vinculados à mineração – proprietária da mais extensa malha ferroviária do Brasil, maior operadora de logística do País. Nesse período muitas também foram as aquisições, inclusive fora do Brasil, em países como Canadá, Rússia, além de parcerias com empresas chinesas e japonesas, entre outras.
Em 2007, quando a CVRD assumiu a denominação Vale, estava presente em mais de 30 países e desenvolvia extenso programa de pesquisa mineral mantendo empreendimentos em 21 países do mundo. Assim, tornou-se uma multinacional brasileira.
Em uma mineradora como a Vale, relacionada entre as maiores empresas de mineração do mundo e como a maior produtora de minério de ferro, de pelotas e de níquel, além da principal exportadora brasileira, tudo é superlativo. Exemplo é a produção anual da Vale em minério de ferro em 2021 foi da ordem de 315 milhões de toneladas. Para este ano, segundo o relatório divulgado em 19 de julho de 2022, expectativa de produção para o ano situa-se entre 310 milhões e 320 milhões de toneladas em minério de ferro; entre 270 mil e 285 mil de toneladas de cobre; entre 175 mil e 190 mil toneladas de níquel, e 34 milhões a 38 milhões de toneladas de pelotas.
Tecnologia, segurança e sustentabilidade
Entre as metas da Vale está a ambição de se tornar uma empresa reconhecida pela sociedade por ser referência em segurança e líder na mineração de baixo carbono. Para atingir esse objetivo e cumprir as metas de redução das emissões dos gases de efeito estufa no âmbito do Escopo 1 (emissões diretas de fontes próprias), Escopo 2 (emissões indiretas da geração de energia comprada) e Escopo 3 (emissões indiretas provenientes da cadeia de valor, incluindo emissões upstream e downstream) inovação e tecnologia são fundamentais.
O principal foco do uso da tecnologia é no aumento da segurança das operações e na descarbonização. No entanto, também há iniciativas de impulso à produtividade, que geralmente estão associadas a maior segurança. Como exemplo, podemos citar a utilização da Inteligência Artificial em equipamentos de usina inteligentes, otimização de processos industriais, vídeo analytics para inspeção em correias transportadoras, entre outras.
Adicionalmente, a realidade virtual tem sido usada em aplicações como a construção de projetos e treinamentos em ambientes simulados e o uso de Inteligência Artificial que, desde 2019, conta com um centro dedicado instalado em Vitória (ES), responsável por várias soluções para o negócio.
“Nos últimos cinco anos desenvolvemos mais de 60 produtos de AI, que beneficiaram 3 mil empregados. Temos exemplos na segurança, como a inspeção de ativos que retira a necessidade da presença física dos empregados no local e o uso dessa técnica associada ao radar orbital para monitoramento de barragens”, informa a empresa via sua assessoria, e agrega: “Os modelos 3D de engenharia inteligente e Building Information Modeling (BIM) – ou modelagem de Informação da Construção – são usados em 35 projetos da Vale”.
Inovação aberta integra várias iniciativas da Vale. Exemplo é o Charge On, desafio realizado em conjunto com as mineradoras BHP e Rio Tinto para encontrar soluções para eletrificação de caminhões.
Sustentabilidade – Na estratégia de baixo carbono, a meta de reduzir em 33% das emissões de carbono dos escopos 1 e 2 até 2030 e de tornar a mineradora carbono neutro até 2050. Uma parte importante dessa meta virá da inovação, seja em projetos de energia solar e eólica, seja em iniciativas como o Powershift, que visa à eletrificação dos equipamentos e responde por duas locomotivas 100% elétricas a bateria e realiza testes com equipamentos elétricos em minas subterrâneas no Canadá – atualmente, há cerca de 40 em operação.
Para favorecer o cumprimento da meta de reduzir em 15% as emissões de escopo 3 até 2035, a Vale, em parceria com a indústria siderúrgica, trabalha para oferecer soluções como o “briquete verde”, desenvolvido internamente na mineradora e anunciado recentemente. Como reforça a empresa, o novo produto pode reduzir as emissões do cliente em até 10% eliminado a fase de “sinterização” e vem merecendo investimentos de US$ 185 milhões na construção de três plantas.
Os investimentos expandem-se, ainda, a soluções para redução de emissões na navegação, como as velas rotativas (Rotor Sails), que representam ganho de eficiência de 8% ao ano, e o Air Lubrication, que produz bolhas de ar no casco e reduzem consumo de combustível de 5 a 8%.
Dentro do programa Ecoshipping – desenvolvido pela Vale para a adoção de novas tecnologias e renovação de sua frota com o objetivo de reduzir as emissões de carbono na navegação –. a mineradora conquistou aval técnico para projeto pioneiro de design para incorporação de tanques multicombustíveis em navios mineraleiros. Com o aval, as embarcações fretadas pela Vale poderão ser adaptadas para, no futuro, armazenarem combustíveis alternativos como gás natural liquefeito (GNL), metanol e amônia.
Fazem parte ainda do portfólio de tecnologias para reduzir o uso de barragens o aumento da produção via processamento a umidade natural e a concentração a seco para produzir minério de alto teor sem uso de água.
E mais: Como um dos instrumentos para alcançar uma mineração mais sustentável, a Vale lançou a Vale Ventures, sua iniciativa de Corporate Venture Capital, para investir em start-ups pioneiras de todo o globo, criando oportunidades de negócios e tecnologias inovadoras para incorporar nas suas operações. Por meio desta iniciativa, a Vale está destinando um capital de US$ 100 milhões na busca soluções focadas em descarbonização na cadeia da mineração; mineração sem resíduos; metais de transição energética e mineração do futuro.
Segurança – O Programa de Transformação de Segurança, com diversas iniciativas que utilizam tecnologia para proteger as pessoas e removê-las de situações de risco, é uma das iniciativas e engloba, por exemplo, a adoção de equipamentos autônomos, ou seja, que não exigem a presença de operadores nas cabines e são monitorados por pessoas em salas de controle. De acordo com a empresa, no Brasil estão em operação 72 equipamentos, entre caminhões fora de estrada, perfuratrizes e máquinas de pátio, além de equipamentos no Canadá e Malásia. Robôs e drones são utilizados em tarefas de inspeções em espaços confinados, trabalhos em altura e outras tarefas arriscadas para pessoas.
Fomentar a pesquisa científica e compartilhar conhecimentos estão entre as finalidades do Instituto Tecnológico Vale (ITV), criado em 2010. Contando com duas unidades, busca soluções tecnológicas e científicas para os desafios da cadeia da mineração e da sociedade, buscando melhores opções de presente e de futuro, promovendo o desenvolvimento de soluções tecnológicas, estimulando transformações socioambientais e colaborando para a construção de uma sociedade mais justa e sustentável.
Nesses 12 anos de atividades, foram investidos mais de US$ 141 milhões no apoio a 154 projetos de pesquisa; e os pesquisadores ligados ao ITV publicaram mais de 700 artigos científicos. As duas unidades do ITV mantêm ainda programas de ensino em mestrado profissional e cursos de capacitação técnica como forma de contribuir para a transformação da empresa e da sociedade por meio do saber.
Enquanto o ITV Desenvolvimento Sustentável (ITV-DS), em Belém (PA), é composto por uma equipe multidisciplinar formada por pesquisadores e bolsistas que se dedica à linhas de pesquisa n área de Computação Aplicada, Meteorologia e Mudança do Clima, Recuperação Ambiental, Genômica Ambiental, Geologia Ambiental e Recursos Hídricos, Biodiversidade e Serviços de Ecossistema, Socioeconomia e Sustentabilidade; o ITV Mineração (ITV-MI), com unidades em Ouro Preto e Santa Luzia (MG), conta com pesquisadores que atuam em mais de 50 projetos de pesquisa e desenvolvimento em parceria com universidades e empresas.
O ITV-MI desenvolve soluções amplamente utilizadas na cadeia da mineração, que priorizam a eficiência energética, a segurança nos processos da cadeia mineral e a diminuição das emissões de CO2. Um exemplo disso é o primeiro navio mineraleiro de grande porte do mundo equipado com velas rotativas. Impulsionada pela energia eólica, a embarcação é capaz de transportar até 325 mil toneladas de minério de ferro consumindo menos combustíveis fósseis e com menor emissão de poluentes.
Destacam-se, também, três Centros de Monitoramento Geotécnicos para monitorar barragens, aplicando tecnologias como vídeo analytics e radares orbitais para detectar movimentos nas estruturas, e investimentos em tecnologias para reduzir o uso de barragens, como quatro plantas de filtragem de rejeitos, num investimento total de US$ 2,5 bilhões, e soluções para o reaproveitamento da areia proveniente do processamento do minério de ferro com o objetivo de reduzir a geração de rejeitos. Apenas em 2022, será produzida 1 milhão de toneladas da Areia Sustentável.