Trens da Vale do Rio Doce

Vale do Rio Doce, uma empresa superlativa

Tudo, na maior mineradora de minério de ferro do mundo, é gigantesco, especial e inovador…

A mais importante mineradora do Brasil fez aniversário. A maior produtora e exportadora individual de minério de ferro do mundo acaba de comemorar 75 anos e sua história não restringe-se ao seu período de existência. Ultrapassa facilmente a idade festejada e chega aos primeiros anos do século XX. Constituída oficialmente a 1º de junho de 1942 por meio do Decreto-Lei 4.352 – quando o então presidente Getúlio Vargas estatizou os ativos da antiga Itabira Iron Ore Company – a história da Vale é composta por avanços e percalços extraordinários que, somados, ajudam a desenhar trajetória empresarial incomum em todos os aspectos. Da qualidade do minério extraído aos projetos implantados; dos desafios impostos aos fornecedores de máquinas e equipamentos aos desempenhos operacionais alcançados; da ousadia desbravadora em todos os campos aos negócios concluídos. Enfim, quando Getúlio Vargas retirou os direitos de propriedade do norte-americano Percival Farquhar e seus sócios brasileiros sobre as jazidas de minério de ferro que dispunham na região de Itabira, hoje conhecida como parte do Quadrilátero Ferrífero de Minas Gerais, não imaginava a trajetória de realizações surpreendentes que a Vale alcançaria ao longo de sua jornada quase secular.
Na verdade, ao nacionalizar as propriedades do grupo (compostas, na oportunidade, pela Companhia Brasileira de Mineração e Siderurgia, pela Companhia Itabira de Mineração e EFVM – Estrada de Ferro Vitória a Minas) e criar a então Cia. Vale do Rio Doce (CVRD), Getúlio Vargas movia-se por objetivos altos e determinados. Idealizava, prioritariamente, a produção nacional de aço, iniciada pela exploração regional de minério de ferro e completada pela transformação siderúrgica em usina que acabou sendo erguida em Volta Redonda (RJ).

Contar a evolução da maior mineradora brasileira, até pouco tempo conhecida como Cia. Vale do Rio Doce (CVRD) e hoje oficialmente apenas ‘Vale’, também representa resgatar a história de inúmeros parques industriais, considerando-se a variedade de equipamentos e máquinas que a companhia utiliza em suas inúmeras atividades. Implica transitar por uma plêiade de empresas quase sem paralelo na história do empreendedorismo nacional. Obriga partir-se de áreas a montante da exploração mineral (como a ‘pesquisa geológica’, por exemplo) e alcançar setores a jusante das produções de minério de ferro, níquel, manganês, carvão, potássio, cobre (e seus subprodutos – ouro, cobalto, platina e paládio), hoje presentes no portfólio de exploração da gigante brasileira. Inclui a obrigação de também reportar-se a outras substâncias (como a bauxita, minério do qual se produz alumínio primário), produtos finais, ou serviços prestados por coligadas nacionais e internacionais, às quais a Vale está vinculada.

Hoje, a multimineradora Vale encontra-se estruturada sobre quatro pilares principais correlacionados e sinérgicos – Mineração, Logística, Energia e Siderurgia. No ‘Mineração’ encontram-se as atividades ligadas às várias explorações minerais acima mencionadas dentro e fora do Brasil. No pilar ‘Logística’ encontram-se alojadas as áreas Ferroviária; Portos e Terminais; e Frota de Navegação. No pilar ‘Energia’ a companhia atua na geração do insumo através de hidrelétricas instaladas no Brasil, Canadá e Indonésia e também tem participações em plantas que operam a partir de outras fontes geradoras, como térmica, eólica e biodiesel. No pilar ‘Siderurgia’ a Vale encontra-se associada a players internacionais em usinas siderúrgicas instaladas prioritariamente no Brasil.

Limites superados

Como pode-se observar, tudo na mineradora é superlativo. Dos primeiros anos de atividade aos dias atuais, a mineradora ultrapassou e vem superando todos os limites possíveis. No Brasil está presente em 14 unidades da Federação; no mundo encontra-se presente em cinco continentes com laços firmados com 26 nações através de operações, escritórios, explorações locais, ou coligações. Até meados do ano passado empregava 110 mil colaboradores (entre diretos e indiretos) e sua produção acumulada de minério de ferro ao longo dos 75 anos de existência aproximava-se de 6 bilhões de toneladas.

No Brasil, onde concentra-se a maior parte da variada extração mineral da companhia pelo mundo, a produção mineral distribui-se por quatro ‘sistemas’ – Norte, localizado no Estado do Pará e onde encontra-se o complexo Carajás, agora acrescido do maior e mais inovador projeto de mineração de ferro do mundo, identificado pela singela sigla ‘S11D’; Sudeste e Sul, ambos localizados no Quadrilátero Ferrífero, região central de Minas Gerais, compostos pelas minas Cauê, Conceição, Brucutu, Gongo Soco, entre outras; e Centro-Oeste, no Mato Grosso do Sul, onde localizam-se as minas de Urucum e Corumbá. Tanto o minério de ferro, sua principal commodity mineral, quanto os demais minérios que explora em território brasileiro, distribuem-se parcimoniosamente pelos quatro sistemas operacionais. Apenas o carvão é lavrado fora do Brasil – mais especificamente na mina de Moatize, na província de Tete, em Moçambique.

No ano passado, apenas a produção de minério de ferro da Vale somou astronômicas 348,84 milhões de toneladas. Também em 2016, as demais produções da mineradora atingiram 311.000 toneladas de níquel; 453.100 toneladas de cobre; 1,7 milhão de toneladas de manganês; 481.000 toneladas de potássio; 5.799 toneladas de cobalto; e 483.000 onças troy de ouro, ou 13,6 toneladas do metal precioso. A produção de potássio fez parte da receita da Vale até o ano passado.

O assombroso desempenho alcançado no ano passado na área do minério de ferro foi ligeiramente superior à produção do exercício anterior, de 2015, quando atingiu 345,88 milhões de toneladas. Para o presente exercício, de 2017, o programa objetiva alcançar desempenho entre 360 milhões e 380 milhões de toneladas em minério de ferro. De acordo com o relatório UNCTAD Iron Ore Market 2016, relativo ao ano base de 2015, o desempenho oficial alcançado pela mineradora brasileira a posiciona folgadamente na liderança global dos produtores e fornecedores transoceânicos do minério.

Pás e carroças

Lá atrás, por volta de 1938, quando Percival Farquhar operava a exploração de minério de ferro na região de Itabira (no local onde mais tarde seria instalada a mina Morro do Cauê), a extração era feita manualmente, com pás, picaretas e marretas, uma vez que o minério predominante – hematita, de altíssimo teor de ferro in situ – era abundante e aflorava. Por volta de 1940, o produto bruto lavrado por Farquhar e sócios ainda era recolhido naturalmente e a rocha reduzida a pedaços menores a golpes de marreta no alto do Morro do Cauê. Em seguida era colocado em pequenas carroças de madeira, empurradas pelos próprios funcionários até pontos de transferência para carroças maiores, puxadas por animais (burros, ou parelhas de bois) que desciam com o produto ‘lavrado’ até a base da montanha. Nesse ponto era transferido para caminhões de pequeno porte, com capacidade para 2, ou 3 toneladas, que seguiam em direção à estação ferroviária de Desembargador Drummond, no município de Nova Era (MG), de onde partia a composição da EFVM em direção ao porto de Vitória, no Espírito Santo.

Os dez primeiros anos de atividades da então CVRD foram duros e de esforço claramente ‘braçal’ em função do baixíssimo emprego de tecnologias apropriadas. Todo o complexo industrial de então compunha-se de equipamentos rudimentares e a gestão da produção era elementar. Entre 1942, ano de sua constituição oficial, até 1950, aproximadamente, a mineradora desenvolveu-se de acordo com as demandas internacionais de minério de ferro, com destaque para as compras realizadas por siderúrgica norte-americanas e inglesas, dedicadas à produção de aço para fabricação do armamento utilizado na II Guerra Mundial. Em 1943 a CVRD trabalhava em duas frentes – lavrar minério na mina Morro do Cauê e consolidar instalação confiável da EFVM em sua totalidade para atender as necessidades operacionais e comerciais.

Hoje, ao contrário daqueles dias, a EFVM estende-se por mais de 1.400 km. No eixo principal – entre Belo Horizonte, passando pelas minas do Quadrilátero Ferrífero, até o Terminal Marítimo de Tubarão (TMT), em Vitória – a ferrovia apresenta 910 km de extensão. Incorporando todas as atividades da mineradora ligadas ao setor ‘Ferroviário’, a Vale transita, hoje, no País por mais de 15 mil km de ferrovias em bitolas métrica e larga, utiliza mais de 3 mil locomotivas e 30 mil vagões.

Em 1944 chegavam às minas da CVRD os primeiros caminhões off-road, da marca Euclid, para auxiliar no transporte de material dentro da reserva. Esses veículos, importados dos Estados Unidos, foram a primeira geração de caminhões fora de estrada, com capacidade para transporte entre 10 e 15 toneladas por veículo, utilizados pela CVRD. A partir de 1946, com o fim da II Guerra Mundial, reduziram-se fortemente as demandas internacionais por minério de ferro e a empresa entrou num processo de baixa, chegando próximo a estágio pré-falimentar.

Mercado global

A década de 1950 acabou por transformar-se no período de ingresso firme da então CVRD no mercado global do insumo mineral. E, por coincidência, graças a outra guerra, desta vez a da Coreia, entre 1950 e 1953. Em 1951 começou, efetivamente, o processo de ‘industrialização’ da extração e produção de minério de ferro em Minas Gerais, com a montagem da primeira estrutura operacional mecanizada equipada com correias transportadoras, peneiras e britadores (os moinhos só ingressaram no processo industrial da CVRD bem mais tarde e por conta da diminuição do teor de ferro no minério in situ).

A partir da escassez do minério aparente, de fácil manipulação, a mineradora foi obrigada a ingressar na lavra do minério menos aparente. Razão pela qual intensificou-se o emprego de detonações para desmonte de blocos maiores que, por sua vez, exigiam caminhões maiores e mais adequados ao transporte. Nessa época também começaram a operar nas minas do Quadrilátero Ferrífero as primeiras perfuratrizes de grande capacidade, que auxiliavam no avanço da frente de lavra. Também começaram a operar as famosas escavadeiras elétricas Bucyrus Erie, com caçamba de até 20 toneladas de capacidade de carga, que ‘fizeram história’ dentro da CVRD.

Nenhum avanço operacional seria alcançado, porém, sem o auxílio das famosas escavadeiras elétricas de esteira da Bucyrus Erie (BE). Entre tantas utilizadas, merece destaque a modelo 195-BI, a maior escavadeira elétrica do tipo shovel até então fabricada no País, com 95% de nacionalização, entregue pela fabricante à mineradora em 1988 para operação em Minas Gerais. Na parte ferroviária, a modernização das vias férreas começou também a partir de 1950. As locomotivas a vapor, que operavam na EFVM na década de 1940, foram substituídas por máquinas diesel, modelo B12, fabricadas pela General Motors norte-americana. Por volta de 1963 entraram em operação os modelos G12 e G16, diesel-elétricas, produzidas pela General Motors do Canadá. Mais tarde, quando iniciou o projeto de exploração de Carajás, foi a vez de começarem a circular na EFC os modelos diesel-elétrico SD 40-2, fabricadas pela General Motors com potência de 3.000 HP.

Surge Carajás

A 31 de junho de 1967 começaria outro capítulo fundamental para a indústria da mineração de minério de ferro, não apenas dentro da Vale no Brasil, como, também, para a civilização moderna. Por conta de um pouso técnico, o geólogo Breno Augusto dos Santos, da Cia. Meridional de Mineração, subsidiária da United Stated Steel Corp. (US Steel), desce de helicóptero em uma clareira no alto de uma serra da região Sudeste do Estado do Pará para reabastecer a aeronave. Enquanto o piloto realizava essa operação, Breno dos Santos, por força do hábito profissional, começou a quebrar blocos rochosos à sua volta com seu martelo na tentativa de identificar o tipo de material predominante na clareira. Acabava de ser descoberta Carajás, a maior província mineral do planeta.

Diante da magnitude da descoberta e da importância estratégica de Carajás para o País, imediatamente o governo brasileiro (por sugestão do então general Albuquerque Lima, Ministro do Interior do governo Costa e Silva) aconselhou a US Steel a negociar com a CVRD a constituição de uma sociedade para estudar e, possivelmente, explorar a região no futuro. Desse aconselhamento surgiu a Amazônia Mineração S.A. (AMZA), empresa com participação igualitária entre as sócias. Em 1970, a CVRD rediscute o acordo com a US Steel e passa a figurar como sócia majoritária no projeto Carajás. Enquanto isso, na região Sudeste, a mineradora colocava em operação o maior trem do mundo em bitola métrica para transporte de minério de ferro entre Minas Gerais e Espírito Santo – composição com 150 vagões e 1,5 km de extensão, tracionado por locomotivas diesel-elétricas de 3.900 HP.

Em 1973, outro passo inovador – é inaugurada a usina de concentração de Itabirito, a primeira unidade do mundo a aplicar, em escala industrial, o processo de concentração magnética de alta intensidade de minério de ferro por via úmida. Em 1974 a Vale assume definitivamente a condição de maior exportadora global de minério de ferro, respondendo por 16% de todo o mercado transoceânico do insumo. Três anos mais tarde, em 1977, a mineradora compraria, por US$ 50 milhões, a parcela da US Steel no ‘negócio’ Carajás e se transformava na única acionista da AMZA (definitivamente incorporada à CVRD em 1980 e, em seguida, transformada na Superintendência de Implantação do Projeto Carajás).

Vitrine de equipamentos

Na década de 1980 já imperavam nos complexos industriais da Vale em Carajás e Minas Gerais equipamentos mais modernos em todas as frentes de trabalho. Também por essa época a empresa tinha dado início a outros negócios não relativos ao minério de ferro. Havia constituído, ou adquirido, empresas ligadas à bauxita, alumínio, fosfato, manganês, aço, transporte marítimo e ‘pelotas’ de minério de ferro. Por todas as operações distribuía-se uma invejável quantidade e variedade de máquinas e equipamentos. Os pátios de operação da mineradora funcionavam como autêntica vitrine das indústrias nacional e internacional.

Tanto no passado, quanto atualmente, encontra-se uma variedade inacreditável de máquinas gigantescas trabalhando em todas as fases da produção mineral da mineradora. Apenas para citar alguns dos mais importantes, no âmbito das escavadeiras elétricas a cabo, ou hidráulicas (de esteira, ou sobre rodas) existem modelos P&H (destaque para o modelo 4100, elétrica sobre esteira), as Bucyrus Erie (já mencionadas), Demag (modelo H485, de esteira e caçamba com capacidade de 34 jardas cúbicas), Liebherr (modelo 994, hidráulico, sobre esteira) e Komatsu (modelo PC-8000, hidráulico de esteira, com pá de 55 jardas cúbicas, ou capacidade para manipular 100 toneladas de minério de ferro). Em pás carregadeiras sobre rodas, ou esteiras, encontram-se equipamentos produzidos pela Caterpillar (modelo 994 D, sobre rodas), Volvo, Komatsu e LeTourneau (modelo L-2350, hidráulico, sobre rodas, com caçamba para 53 jardas cúbicas, capaz de bascular 100 toneladas de minério de ferro em cada ciclo de operação em Carajás). Entre os tratores de grande porte destacam-se os Caterpillar da ‘família D’, indo do ‘6’ ao ‘11’, além de exemplares Komatsu.

Mas, o que impressionava mesmo – e ainda impressiona – são os caminhões fora de estrada, ou off-road, articulados, ou rígidos. Neste caso merece destaque os veículos fornecidos pela Caterpillar e que cobrem uma faixa de carregamento que parte de 100 toneladas de carga (modelos 777) até o maior de todos da fabricante norte-americana (modelo 997F), com capacidade para 360 toneladas de carga. Ainda nessa categoria de veículos off-road, a Vale opera na mina de Carajás o maior entre todos os caminhões fora de estrada em circulação no Brasil – o colossal modelo Liebherr T282B, com capacidade para transportar até 400 toneladas de carga por viagem.

Privatização

Em 6 de maio de 1997 a Vale é privatizada na bolsa de valores do Rio de Janeiro, durante o governo do presidente Fernando Henrique Cardoso. A privatização envolve financiamento subsidiado do BNDES aos compradores – consórcio Brasil, liderado pela Cia. Siderúrgica Nacional. Valor total da privatização: US$ 3,3 bilhões, envolvendo 41,73% das ações ordinárias pertencentes ao Governo Federal na mineradora. Em 1997, ano da privatização, a Vale alcançava seu primeiro lucro histórico: R$ 1,251 bilhão.

Ao longo dos dez primeiros anos de 2000 a Vale fez incursões em novos minérios e acrescentou empresas ao seu portfólio, como a canadense INCO, mineradora e produtora de níquel metálico em nível mundial. No início dos anos 2000 optou por abrir um novo ciclo de investimentos em modernização de equipamentos em suas minas, plantas industriais, ferrovias e terminais portuários. Desse plano constavam a finalização da duplicação da EFVM e a duplicação da EFC (concluída no ano passado), para atender um dos mais audaciosos projetos no setor mineral do mundo – a instalação do complexo ‘S11D’, no município de Canaã dos Carajás, ao lado do atual complexo industrial do sistema Norte.

Em 2002 entra em testes na EFC um trem com 412 vagões. Algum tempo depois entra em operação na EFVM composição com 320 vagões e 3 km de extensão. Em paralelo, a Vale assume o controle integral da Ferrovia Centro-Atlântica (FCA) e coloca em operação, nessa ferrovia, sistemas eletrônicos de tração distribuída (Locotrol), que permite aumento na extensão das composições e, por consequência, na capacidade de transporte. A 29 de novembro de 2007 a mineradora oficializa o nome “Vale S.A.”, deixando para trás a antiga denominação “CVRD”.

Ao longo de fevereiro de 2012 a companhia começa a operar a Estação de Transferência Flutuante (ETF), em Subic Bay, localizada no alto mar das Filipinas. No final de 2012 realiza, em São Luís do Maranhão, a fase final de testes da maior empilhadeira de minério de ferro do mundo. Com 45 metros de altura e 1.800 toneladas de peso bruto, o equipamento possui capacidade de empilhamento de 20.000 t de minério por hora e é operada à distância.

Ano marcante

O exercício de 2015 foi marcante para a Vale. Em abril a mineradora anunciava a entrada em operação da primeira empilhadeira/recuperadora de caçambas totalmente hidráulica do mundo. Na tarde de 5 de novembro de 2015 era atingida – indiretamente – pelo trágico episódio do rompimento da barragem de rejeito do Fundão, da Samarco, em Marina (MG). Como ficou esclarecido posteriormente, a mineradora sinistrada configura joint venture em partes iguais entre a Vale e a australiana BHP Billiton para produção de ‘pelotas’ de minério de ferro. No acidente, o mais trágico de toda a história da mineração brasileira, e um dos mais graves em termos mundiais, morreram 19 pessoas, além dos prejuízos materiais e ambientais de incalculável monta.

Em junho do ano passado, a Vale iniciava a fase de testes para o funcionamento do pátio de regularização do projeto S11D, local de estoque provisório do minério em condições ideais para a alimentação da usina. Uma empilhadeira de lança dupla, com mais de 70 metros de comprimento, foi a primeira a ser movimentada num conjunto de cinco outras máquinas (três recuperadoras, do tipo ponte, e duas empilhadeiras, de lança dupla). Por fim, a 17 de dezembro de 2016, a maior mineradora de minério de ferro do mundo dava novas demonstrações de seu inesgotável poder de ‘reinvenção’ no que concerne à atividade mineral. Depois de três anos de obras, a Vale colocava em operação o arrojado projeto de mineração denominado ‘S11D Eliezer Batista’, localizado na Serra Sul, município de Canaã dos Carajás, ao Sul do complexo Carajás, para produzir 90 milhões de toneladas anuais de minério com teor médio de 66,7% de ferro.

Tudo surpreende e revela-se inovador no maior projeto de mineração da história da Vale e, também, da indústria extrativa mineral do mundo até o momento. Do seu custo final (US$ 14,4 bilhões), à amplitude da produção inicial; da revolução tecnológica em não usar caminhões fora de estrada no transporte de material, ao inovador processamento ‘a seco’ do minério; da perfeita integração da produtividade e logística ao respeito social; da revolucionária alternativa construtiva da planta industrial em módulos ao resguardo e preservação ambiental pela inexistência de barragens de rejeito. Enfim, com o início de operação do S11D Eliezer Batista – em homenagem ao notável ex-presidente da companhia em duas oportunidades – a indústria global da mineração de minério de ferro entrou, definitivamente, em uma nova era, totalmente revolucionária e considerada impensável há alguns poucos anos.