Realizada bienalmente, em anos pares, com a edição de 2020 transferida para 2021 – de 19 a 23 de outubro – devido à emergência sanitária, a 44º EIMA International foi realizada no BolognaFiere, em um complexo de 100 mil metros quadrados distribuídos em 35 pavilhões, onde se fizeram presentes 1.350 empresas expositoras, sendo 350 estrangeiras, representando mais de 40 países e exibindo mais de 40 mil modelos nos 14 setores especializados e 5 espetáculos temáticos em que o evento é dividido: Componentes, Verde, Energia, Digital e Hydrotech.
Essa exposição internacional de máquinas agrícolas e jardinagem, organizada desde 1969 pela federação italiana de fabricantes FederUnacoma, mesmo não tendo contado com empresas de alguns países importantes – como a China ou a Índia, que na edição anterior estiveram presentes com mais de 300 indústrias e que devem retornar, juntamente com fabricantes de outros países, no próximo ano – a EIMA 2021 confirmou seu caráter internacional, garantiu Fabio Ricci, vice-presidente da FederUnacoma.
Ricci, no dia 21 de outubro, em entrevista exclusiva a Máquinas & Equipamentos – publicação presente ao evento a convite dos organizadores – fala sobre o evento e as metas para a próxima edição, que já tem data marcada: de 9 a 13 de novembro de 2022.
A EIMA International é reconhecida como o fórum que conecta o mundo agrícola, o mundo industrial, as atividades de pesquisa, as questões ambientais e as atividades de orientação e coordenação política e administrativa, funcionando como ponto de encontro das cadeias de suprimentos agroindustriais, conectando o setor ao futuro da agricultura.
Confira!
Quais considerações poderia fazer sobre o evento como um todo?
A EIMA International é uma feira de mecanização agrícola de alcance mundial, que se constitui a segunda maior feira do mundo em máquinas agrícolas, atrás somente da AgriTecnica, mas no segmento especializado é a primeira. Temos aqui tudo em mecanizações de pequeno e médio porte, com ênfase também na mecanização de grande porte.
Que balanço já é possível fazer do evento deste ano?
Acreditamos nesse projeto e, nos dois primeiros dias do evento, as observações que recebemos, inclusive dos expositores, foram muito positivas, até porque a participação excedeu nossas perspectivas, mesmo sabendo que não podemos, em absoluto, obter os mesmos números da edição de 2018, que foi realmente extraordinária: tivemos área de 135 mil metros quadrados e 320 mil visitantes, 52 mil deles de outros países. Um resultado excepcional., neste ano, seria uma participação de 50% do público de 2018, ou seja, ao redor de 160 mil visitantes.
Além da 44º EIMA Internacional ter sido transferida de 2020 para 2021, quais os outros impactos provocados pela pandemia do novo coranavírus?
Ainda estamos passando por um período pós-pandêmico, pois a situação não está completamente resolvida em todo o mundo, há muitos países com restrições tanto para saída quanto para a entrada de pessoas. Aqui na Itália, por sorte, temos uma situação muito positiva, porque temos 80% da população vacinada, e fizemos, em parceria com a Bologna Fiere – que é a proprietária do centro de convenções – uma série de procedimentos de controle e de medidas de contenção da transmissão do Covid-19 nesta feira. Sabemos que Itália só se entra com o Green Pass, e posteriormente se prevê, para aqueles que não têm o Green Pass – que é um documento comunitário necessário para entrar na Itália – o teste rápido para todos os operadores que ainda não possuem o Green Pass.
Também tivemos a sorte de que, no final de agosto, o Ministério de Saúde italiano permitiu a entrada de brasileiros a trabalho, com uma autorização específica, que foi por nós solicitada em especial para os delegados convidados de São Paulo, justamente para que eles pudessem participar da feira. A autorização concede a permanência de até 120 horas no território italiano, mas eu diria que esse tempo é suficiente, a despeito da longa viagem, para participar dos três dias da feira e voltar ao Brasil.
O correspondente à FederUnacoma no Brasil é a ABIMAQ. Como é a relação entre as duas entidades?
Nós temos uma colaboração histórica com ABIMAQ, temos um acordo firmado há muitos anos e atualizado em 2019 na Agrishow em Ribeirão Preto (SP). Esse acordo serve sobretudo para reforçar a cooperação entre as empresas associadas à FederUnacoma e àquelas da Câmara Setorial Máquinas e Implementos Agrícolas da ABIMAQ, a CSMIA. Há mais de 20 anos participamos da Agrishow em Ribeirão Preto, e a Itália possui o maior pavilhão estrangeiro da Agrishow, com 800 metros quadrados. Além disso temos diversas empresas italianas que expõem fora do pavilhão coletivo. São, sobretudo, as empresas que possuem filiais produtivas ou comerciais no Brasil. Das empresas que participam do estande coletivo, 90% a 95% delas produzem componentes para máquinas agrícolas, transmissão hidráulica, eletrônica e componentes para máquinas de proteção de culturas.
Qual o principal mercado no Brasil para a indústria italiana de máquinas agrícolas?
Há um grande interesse no Brasil, sobretudo no setor de componentes, porque o Brasil produz maquinários, mas nós fornecemos os componentes, responsáveis por elevar a qualidade dos maquinários. Fornecemos poucas máquinas agrícolas, poucos implementos agrícolas, porque de fato o Brasil produz as máquinas, mas há alguns anos realizamos um estudo, conduzido por uma empresa brasileira, sobre as potencialidades da indústria italiana de máquinas agrícolas nos setores hortifruti e hortivinícolos, e sabemos que o Brasil, inclusive os produtores do Estado de São Paulo, há um bom tempo conta com muitos vinhedos para a produção de vinho.
O Brasil tem vocação para construir máquinas para campos abertos, para soja, milho, grãos em geral, cana de açúcar, café e laranja, e, claro, mandioca e algodão. No entanto, não produz – e se fabrica, a produção é ainda muito limitada – máquinas para vinhedos, para frutas, para a produção de hortaliças, como por exemplo para tomate, cebola, alho, frutas cítricas, maçãs etc. Portanto, poderemos oferecer as soluções tecnológicas mais adequadas a estas culturas que de alto valor agregado, porque são culturas que em inglês chamamos de cash crops que, à diferença dos cereais, cujo preço é estabelecido na bolsa – bolsa de Chicago e bolsas locais –, os preços da produção hortifruti é estabelecido no mercado, porpiciando maior retorno para o agricultor se comparado àqueles que produzem cereais. Desse modo, podemos incrementar a nossa posição, a nossa presença no Brasil e ao mesmo tempo podemos também colaborar com os brasileiros que pretendem exportar a mercados fronteiriços. Nós, por exemplo, estamos na Argentina, muito preparados e focados na cultivo intensivo, na cultura direta.
A população do planeta cresce e precisa ser abastecida de alimentos. É preciso plantar mais, no entanto, não há como aumentar a área plantada, exigindo investimentos em tecnologias. A Itália estaria em condições de contribuir com essa tecnologia para ajudar a aumentar a produção de alimentos?
Diria que sim, porque hoje nós temos tecnologias recentes em agricultura de precisão, temos eletrônica e software, máquinas inteligentes, inclusive porque na Europa, com a nova política agrícola comunitária, devemos atingir alguns objetivos estabelecidos pelo Green Deal, do farm to fork como política, ou seja, obter redução de 50% no uso de fertilizantes e de produtos químicos, fazer melhor gestão de recursos hídricos, porque a água é muito importante e 70% da água existente no planeta é utilizada na agricultura. Também temos tecnologias que podem posteriormente criar condições para atingir número adequado de animais por hectare, pois sabemos que, em períodos de seca, o número de animais diminui; devemos também fazer frente às mudanças climáticas.
Nesse sentido, o que está disponível nesta 44ª EIMA?
Aqui é possível encontrar máquinas com computadores de bordo, painel central, sistemas de software, programas informáticos para mapeamento e gestão do terreno, de modo a levantar constantemente as condições daquele local de trabalho, e também informar ao agricultor como, onde e quando aplicar produtos químicos, sementes e fertilizantes a fim de evitar o desperdício. O input agrícola representa 60% do custo fixo para um agricultor, além de contaminar o ambiente, é um custo excessivo e substancial para o agricultor. Aqui temos muitas soluções, e, por exemplo, na edição passada, criamos uma área que este ano está em um salão específico, chamado EIMA Digitale, relacionado às aplicações digitais na agricultura.
Desse modo, a Itália dá sua contribuição com tecnologias, conhecidas no Brasil como Agricultura de Precisão, elementos eletrônicos e softwares variados, e na Europa eles precisam cumprir com a política agrícola comunitária que tem alguns objetivos chamados de Green Deal, que visam a diminuir pelo menos em 50% o uso de fertilizantes, de produtos químicos, bem como contribuir com a preservação dos recursos hídricos.
Qual a expectativa para o ano de 2022 em relação a esta parceria com o Brasil?
Com certeza estaremos na Agrishow 2022, que será realizada no fim do mês de abril, haverá uma comitiva italiana, afinal, há uma vontade grande por parte das empresas italianas de voltar ao Brasil, porque nós nos ausentamos por dois anos, 2020 e 2021. Além disso, nesse período, as empresas não puderam visitar seus importadores e distribuidores no Brasil. Do mesmo modo, nós esperamos uma participação da ABIMAQ na EIMA 2022 com suas empresas. Este ano promovemos a Agrishow 2022 com um estande oficial, e com a ABIMAQ devemos discutir e chegar a um consenso sobre como empreender as atividades para favorecer os negócios entre empresas de máquinas agrícolas tanto brasileiras quanto italianas. Destaco que, em 2018, João Marquezan – presidente da ABIMAQ – veio aqui à EIMA. Tivemos novo encontro em 2019, quando fomos para a Agrishow e renovamos o acordo entre ABIMAQ e FederUnacoma, mas veio a emergência sanitária da COVID-19… Também organizamos um webinar com a ABIMAQ e a Câmara de Comércio Ítalo-Brasileira.