Sustentabilidade e gestão encabeçam lista de investimentos em P&D

À medida em que as máquinas evoluem para entregar cada vez mais potência e resultados, com compartimentos cada vez menores, maiores velocidades e vazões, é criado um ambiente mais desafiador à indústria de lubrificantes industriais, que precisa acompanhar muito de perto os avanços tecnológicos das máquinas.

Foi-se o tempo em que apresentar bom índice de viscosidade era suficiente. Hoje, além da evolução crescente dos novos combustíveis e de normalizações internacionais para motores, os lubrificantes precisam se tornar muito mais estáveis, dando sua contribuição contra o cisalhamento.

Toda a tecnologia embarcada em uma máquina ou um equipamento e o avanço da indústria 4.0 também ampliam as exigências para com o lubrificante, que precisa ser estável, resistir a altas temperaturas e à oxidação, e ser compatível com novos materiais e componentes, entre outros aspectos, uma vez que, quando a lubrificação falha, necessariamente há comprometimento desses quesitos, colocando todo o sistema em risco.

Entre as tendências tecnológicas nesse campo estão os lubrificantes sintéticos, que oferecem “ótima relação de custo-benefício, tanto pela qualidade, quanto pelo investimento. Existem óleos que chegam a lubrificar por até oito vezes mais tempo, se comparados aos convencionais. Outros diferenciais são economia energética e a significante redução do desgaste de maquinários e componentes”, informa o engenheiro Pedro Elias Sachet – consultor técnico da Iconic, empresa formada da união da Ipiranga e da Chevron, detentora da marca Texaco.

No caso da Petronas Lubrificantes Brasil, “o plano de investimentos em pesquisa e desenvolvimento está baseado em novos fluidos que contribuem para a redução da emissão de carbono. Nossos esforços estão focados em lubrificantes que gerem economia de combustível ou que contribuam para minimizar o consumo de energia”, afirma Marcelo Capanema, diretor de Assistência Técnica Américas.

Quando a lubrificação falha, todo o sistema é colocado em risco.

A tecnologia embarcada e o avanço da Indústria 4.0 ampliam as exigências para com o lubrificante.

A atração pelos produtos com apelo ecológico também é alinhada por Marcos Pacheco, químico sênior da Quimatic Tapmatic, especializada em soluções químicas para produção e manutenção industrial. Os motivos envolvem “baixa toxidade, amigáveis ao usuário e de base vegetal, já que os de base mineral, por serem derivados do petróleo, acabam sendo menos ecológicos e causam mais impacto ambiental”.

“Sustentabilidade é uma palavra que não sai de cena em diversos setores. Isso não é exceção quando falamos de lubrificantes. Portanto as tendências neste caso são produtos de fontes renováveis que entreguem uma performance superior aos que já temos atualmente no mercado. Tarefa bastante complicada se analisarmos as projeções relativas ao custo das matérias-primas fósseis”, reforça Álvaro Louzão, Coordenador de Negócios – BU Lubrificantes e Soluções Automotivas da Additiva Produtos Químicos, distribuidora de diversos fabricantes mundiais de especialidades químicas.

Com respeito à tendência de maior utilização de lubrificantes sintéticos e semissintéticos, José Angelo Maringoli Limonge – gerente de Tecnologia da Moove, empresa do grupo Cosan, detentora da marca Mobil no Brasil – recorda que um dos grandes gargalos do setor “é o acesso a óleos básicos específicos para estes produtos. Hoje no Brasil quase a totalidade da produção de óleos básicos é de Grupo I, sendo que para a produção destes lubrificantes iremos necessitar de maiores volumes de básicos Grupo II e Grupo III”.

Matéria-prima também é preocupação citada pela IEC Engenharia, distribuidora exclusiva da alemã Perma no mercado brasileiro. A declaração de Victor Santos da Silva – consultor técnico em Lubrificação Automática da empresa – resume o quadro atual: “Após um ano desafiador no âmbito industrial, a demanda de produtos como, por exemplo, o Hidróxido de Lítio é altíssima e seus custos se tornam a cada dia que passa mais elevados. As fabricantes de lubrificantes estão buscando alternativas confiáveis para suprir a rigorosa necessidade dos consumidores”. Agrega a esse, outro complicador também lembrado por ele, que compreende “a necessidade de importação de óleo básico, devido à baixa produtividade de refino no Brasil”.

Longevidade e compatibilidade: temas de P&D

De um modo geral, além dos biodegradáveis, os óleos com maior longevidade são tema de desenvolvimentos e pesquisas. Há, ainda, preocupação com a compatibilidade entre os diferentes componentes por onde o óleo vai circular como aço, alumínio, borrachas, elastômeros, compósitos cerâmicos, embuchamentos de metais amarelos entre outros.

“Os diferentes tipos de componentes precisam ser testados com o lubrificante para garantir o correto funcionamento durante a operação”, lembra Sachet, frisando que “tudo passa pela pesquisa, desenvolvimento e produção. Quando falamos de motores, esse tudo é ainda mais importante, pois a formulação precisa ser ajustada para as novas características dos combustíveis, como teores de etanol anidro, biodiesel, enxofre e outros detalhes técnicos”.

O consultor técnico da Iconic complementa: “Quando falamos de energia (elétrica ou hidráulica) o pensamento é o mesmo, pois existem outras variáveis que podem influenciar na forma como a Texaco desenvolve suas formulações – desde temperatura até campo eletromagnético, passando por pressão e vibração”.

Fabio Limeira Afonso – gerente da Engenharia de Campo da Moove – também observa como tendência para este ano “a utilização de lubrificantes com a capacidade de proporcionar longa vida em serviço, sem degradar ou comprometer a capacidade de filtração, capazes de evitar os depósitos de verniz e borras”.

Entre as principais exigências dos usuários estão a garantia de altos rendimentos de eficiência energética, de confiabilidade e operacionalidade dos equipamentos. A tecnologia envolvida na lubrificação tem sido aperfeiçoada através de P&D desde meados de 2018, sendo a automatização e gestão remota de pontos de lubrificação uma tendência de grande valia nos futuros parques industriais.

Para isso, de acordo com o consultor técnico em Lubrificação Automática da IEC Engenharia – “estamos nos preparando tecnologicamente para, a partir deste ano de 2021, atender todas as expectativas de modernização que o mercado de lubrificantes necessita. A Perma – promete Silva – “é pioneira em desenvolvimento digital e irá mais uma vez surpreender o mercado. Nós da IEC Engenharia iremos atender nosso mercado com todo o embasamento técnico necessário para tal”.

O crescimento de fonte renováveis de energia, tais como a Eólica, Biogás e Solar, são perceptíveis e influencia nodesenvolvimento de formulações mais sustentáveis e cada vez menos agressivas ao meio ambiente na produção de lubrificantes, confirma o consultor técnico em Lubrificação Automática da IEC Engenharia, reconhecendo a crescente rigorosidade das agências reguladoras ao implementarem ações voltadas para qualidade e designação do descarte de resíduos.

Essa constatação – destaca Silva – leva os fabricantes de lubrificantes a investirem “cada vez mais em tecnologia para que o produto se torne menos danoso ao ecossistema. Entre as ações da indústria temos a implementação de produtos com maior economia de combustível, menores teores de enxofre, fósforo e formações de sulfatos, processos de rerrefino do lubrificante usado e aplicação do óleo verde, que é vegetal e biodegradável”.

Felippe Moreira, químico responsável da Evolub Lubrificantes, mostrando sua certeza de que “com o advento de novos combustíveis e fontes alternativas de energia, o mercado de lubrificantes visa a acompanhar as novas tecnologias” e, através de novos aditivos e óleos básicos sintéticos, incorporar na formulação dos produtos “maior eficiência energética, intervalosde trocas cada vez maiores, produtos cada vez menos poluentes e impactantes ao meio ambiente”. Assim, o mercado de lubrificantes cumprirá as previsões, em âmbito global, relativas a “ganho de produtividade e impacto cada vez menor ao meio ambiente”.

Sistemas de gestão: contribuição preciosa

Aos lubrificantes sintéticos, as fabricantes em geral de lubrificantes industriais somam os sistemas de gestão e de lubrificação centralizada e soluções em tempo real com a gradual implementação das redes 5G e, consequentemente, da indústria 4.0 no País.

Frisando que “a lubrificação exige entrega constante da equipe e atenção dos profissionais às etapas e aos pontos do procedimento”, Danilo Sad – gerente de Marketing e Comercial de Lubrificantes da BR Distribuidora – recomenda a utilização de “um sistema de lubrificação centralizada, que integre gestão técnica e humana, e seja capaz de fornecer ao gestor a visão da manutenção em tempo real por meio de consultas, relatórios e indicadores”.

Nesse contexto descrito por Sad, “a tecnologia aparece como uma ferramenta facilitadora que indica se a lubrificação foi feita com o lubrificante correto, no ponto certo, com a quantidade exata e na frequência adequada. A BR Distribuidora disponibiliza para seus clientes um gerenciador de lubrificação que facilita esse trabalho tão necessário para qualquer planta fabril”, realizado em parceria com as melhores empresas de tecnologia em lubrificação.

A quantidade é um dos pontos fundamentais em que se baseia a lubrificação, alerta Diogo Schwerz Tosetto – gerente comercial da Flexbimec Internacional, fabricante italiana que, entre outros produtos, desenvolve e produz linha completa de propulsoras e bombas pneumáticas, válvulas e acessórios hidráulicos, medidores de fluxo e bicos dosadores digitais e analógicos, assim como sistemas de automação e monitoramento eletrônico de fluidos para industrias, companhias de petróleo e varejo, tanto para os setores industrial , automotivo e manutenção em geral.

A tecnologia aparece como ferramenta facilitadora e indica se a lubrificação foi feita com o lubrificante correto, no ponto certo, com a quantidade exata e na frequência adequada.

“Existe um tripé básico em lubrificação, que concentra mais de 80% das falhas e quebras de equipamentos, que são a falta de lubrificação, o excesso de lubrificação e a contaminação”, relata Tosetto, listando como solução “melhores controle e gestão do processo, do plano de lubrificação e da capacidade dos equipamentos de colocar a quantidade certa de óleo ou graxa, na hora certa, e da maneira mais adequada possível. Parece simples e óbvio, mas é bem complicado de executar no dia a dia operacional”, reforça.

A IEC Engenharia, por sua vez, “está sempre atenta às movimentações do mercado de combustíveis, pois somos fornecedores de lubrificante em aplicações automatizadas e tais unidade de produção necessitam de tecnologia específica em alguns casos”, constata Silva, anunciando o desenvolvimento de sistemas capazes de “atender equipamentos dos produtores de novos biocombustíveis e combustíveis sintéticos, por exemplo”.

Avanços das máquinas e dos lubrificantes: sincronismo

A interdependência entre a evolução das máquinas e a dos lubrificantes responde pela substituição de diversos produtos de base mineral por outros semissintéticos e sintéticos, que são mais ecológicos e amigáveis aos usuários. Sendo assim, sempre que ocorrem inovações nas máquinas industriais, sejam elas para melhor consumo de energia ou maior produtividade, o lubrificante evolui quase de forma automática, asseguram as fabricantes.

“Normalmente, as fabricantes de equipamentos possuem suas próprias especificações técnicas de lubrificantes para assegurar a melhor performance, disponibilidade e garantir a máxima proteção dos componentes do equipamento. Como a Petronas possui um bom relacionamento e parceria com as indústrias de equipamento (OEM), auxiliamos e discutimos as atualizações necessárias a serem feitas nos lubrificantes para que, assim que o equipamento seja lançado, nós já tenhamos uma solução a ser oferecida para os clientes, o que garante a maior eficiência de seus ativos”, esclarece Capanema.

Ao falar sobre a importância da lubrificação no universo da indústria 4.0, Pacheco relaciona a disciplina à automação dos processos de produção, que promovem a inserção de robôs em atividades repetitivas. “Nesse tipo de manufatura, a lubrificação não pode falhar ou levar a máquina à parada, pois isso prejudica todo o processo. Portanto, lubrificantes com mais tecnologia e maior vida útil são muito necessários nesse tipo de manufatura”, ressalta o químico sênior da Quimatic Tapmatic.

Essa evolução pari-passu, na visão do gerente de Engenharia de Campo da Moove, exige que os lubrificantes “façam frente a esses novos desafios, principalmente nas características relacionadas ao keep clean performance, mantendo-se limpo sem formar borra e verniz por períodos de uso cada vez mais prolongados”.

A BR Distribuidora, como comenta Sad, busca sempre analisar “a tecnologia dos lubrificantes que vem acompanhando a evolução dos fabricantes de equipamentos (O&M), sempre buscando produtos com maior durabilidade e desempenho, melhorando ainda mais a produtividade e evitando quebras prematuras”. Direciona ainda sua ação para os sistemas centralizados; monitoramento por meio de sala de controle; menos interação manual, evitando contaminação dos lubrificantes e diminuindo a exposição dos trabalhadores.

Já a IEC Engenharia vem atuando, segundo seu consultor técnico em Lubrificação Automática, para proporcionar ao mercado “melhores condições de custo-benefício para integrar a indústria 4.0 no quesito lubrificação automática, favorecendo o consumo e a periodicidade do lubrificante analisados em tempo real em busca da excelência e conservação do equipamento. A meta para 2021 é “difundir uma nova interface de conexão via Bluetooth de maneira segura, confiável e moderna. Atualmente, o mercado está em fase final de testes e pronto para inserir o produto no mercado. Em breve, teremos novidades”, anuncia Silva.

Para explicar a imprescindibilidade de sincronismo entre os avanços da indústria de máquinas e equipamento e os sistemas e produtos de lubrificação, Tosetto descreve um quadro que, segundo ele mesmo, pode ser exagerado, mas não dista muito da realidade: “Muitas empresas e clientes investem milhões em uma máquina nova, moderna e altamente tecnológica, mas fazem a manutenção com os equipamentos e ou ferramentas que eram usados anteriormente para máquinas das décadas de 1980 e 1990. Isso não funciona! Chegou a hora da automação e de garantirmos mais precisão para a indústria 4.0 funcionar efetivamente. É como se lubrificássemos um robô de milhões de dólares com aquela engraxadeira velha, sucateada, que estava encostada lá na oficina…”

Manufatura avançada e lubrificação

No ano de 2020, o setor industrial, com raras exceções, sofreu redução ou paralisação de algumas atividades durante um período mais ou menos longo, principalmente no segundo trimestre. Muitas indústrias aproveitaram para realizar manutenção, reforma e mudanças em suas estruturas e equipamentos. Também é voz corrente que o investimento em digitalização das plantas cresceu, como forma de enxugamento de custos, otimização da produção e obtenção de ganhos de produtividade.

“Mesmo com as incertezas no mercado interno, a indústria e o setor de serviços são impactados direta e indiretamente pelo desenvolvimento no mercado global da indústria 4.0 e inteligência artificial que implica máquinas e equipamentos cada vez mais tecnológicos, e a demanda por lubrificantes que atendam essa demanda são urgentes”, frisa Felippe Moreira, uma vez que, “com o aumento da complexidade tecnológica e produtos cada vez mais sofisticados oriundos da indústria 4.0, a lubrificação se torna cada vez mais importante, para garantir cada vez mais os ganhos de produtividade, o funcionamento ideal em condições extremas de uso sem perder eficiência energética, garantindo intervalos de troca cada vez maiores, bem como, a sustentabilidade ambiental em todas as etapas do processo”.

Essa constatação – garante o químico responsável da Evolub Lubrificantes – torna essencial “a busca por óleos básicos e aditivos cada vez mais eficientes e com menos impacto ao meio ambiente pelas indústrias de lubrificantes, para suprir as necessidades do mercado”.

A inserção de robôs em ambientes industriais exige que a lubrificação não apresente falhas ou leve a máquina à parada, prejudicando todo o processo

Victor Silva, destacando que “é cada vez mais comum nos depararmos com termos técnicos como Big Data, Internet das Coisas, Power BI, Inteligência Artificial e outros, que alteram a estrutura industrial em várias vertentes”, crê no papel fundamental da lubrificação “na condição operacional do equipamento, desta forma toda automação creditada à industria 4.0 poderá ficar alheia a um problema específico de falta de óleo ou graxa. A solução ideal seria definir a já denominada Lubrificação 4.0, atuando em paralelo à manufatura avançada. Assim teríamos total confiabilidade e gestão dos ativos”.

“Quando observamos plantas integradas, com um nível de controle e monitoramento on-line elevado, a operação deve ser garantida e um bom plano de lubrificação, bem como a aplicação de produtos corretos, contribui para que o sistema não pare de modo imprevisto. Sendo assim, seja em uma linha de produção automobilística, em um laminador de uma siderurgia ou mesmo em equipamentos de mineração, o processo de lubrificação correto, junto aos planos de manutenção preventiva (planos de manutenção) e preditiva (análise de óleo, vibracional ou até termográfica), conseguem estabelecer plena atividade de uma planta industrial, extraindo alta produtividade”, alerta Capanema.

Lubrificantes com mais tecnologia e maior vida útil são muito necessários na manufatura avançada. Igualmente fundamental é o equacionamento de gargalos como capacitação das equipes de lubrificadores e gestão da lubrificação, com controle adequado dos lubrificantes, planos de análises e transformação de informações em conhecimento sobre os equipamentos e suas possíveis falhas

Sachet também reconhece que a lubrificação impacta na produtividade e na disponibilidade dos equipamentos e máquinas: “Se a lubrificação falhar, necessariamente há comprometimento desses quesitos, colocando o conceito de manufatura avançada em risco”.

Por sua vez, Fábio Afonso preconiza: “A lubrificação vai passar por um processo de transformação com o avanço da manufatura avançada. As intervenções de lubrificação que hoje são feitas de forma calendarizada vão passar a ser feitas somente quando o equipamento realmente pedir, liberando muitas horas de intervenção homem-máquina em ações preventivas. Sensores conectados on-line serão capazes de predizer o momento correto de fazer uma intervenção de reabastecimento da máquina e até mesmo o momento correto de trocar uma carga”.

Elo frágil é alinhado por Sad. Trata-se da carência de profissionais treinados para atuar em lubrificação: “A capacitação das equipes de lubrificadores é um dos grandes gargalos do setor. Outro ponto importante é a falta de gestão da lubrificação, isto é, o controle inadequado dos lubrificantes, os planos de análises não executados e não transformar informações em conhecimento sobre os equipamentos e suas possíveis falhas”, conclui o gerente de Marketing e Comercial de Lubrificantes da BR Distribuidora.