Agronegócio: 84% de um mercado pouco desenvolvido

A força do agronegócio brasileiro é conhecida, mas há gargalos que poderiam melhorar significativamente os resultados, principalmente quando o assunto é armazenagem e movimentação de grãos.

No Brasil há déficit de armazéns para grãos, seja nas propriedades, nas cooperativas e até nos entrepostos. A safra aumenta, a capacidade idem, mas a desproporção continua. Em 1990, por exemplo, o Brasil produzia 75 milhões de toneladas de grãos e tinha capacidade de armazenagem de 83 milhões. Na safra passada (2016/17), segundo dados oficias da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), o País bateu recorde, ultrapassando os 232 milhões de toneladas de grãos, mas a capacidade para armazenagem fora das fazendas era de 158 milhões de toneladas.

Há outros números impactantes: enquanto a produção agrícola brasileira em 2017 cresceu 30%, a da Argentina cresceu 10%; dos EUA, 5%; e a do Canadá teve queda de 2%. Mas quando o assunto é armazenagem em silos, a relação é outra: na Argentina, 40% das fazendas possuem armazéns para os grãos produzidos, percentual que nos EUA são 65% e no Canadá, 60%, ficando o Brasil com apenas 16%.

Como frisa Andrea Hollmann, coordenadora do Grupo de Trabalho de Armazenagem de Grãos (GT ARM, da ABIMAQ), “estatísticas mostram que as perdas totais na produção de grãos chegam a 1,3%, o que corresponde a 3,2 milhões de toneladas. O uso de silos fora das fazendas é um dos principais causadores dessas perdas. Se conseguirmos ampliar a capacidade instalada, além de contarmos com um mercado imenso – envolve propriedades agrícolas a partir de 700 hectares, ou até menores no caso de produtos especiais – daremos nossa contribuição para equacionar gargalos importantes”.

Os benefícios, como mostra Hollmann, afetam diretamente também o produtor agrícola: “Com a unidade armazenadora, o produtor tem maior flexibilidade de colheita, pode comercializar seu produto sem descontos de terceiros e no melhor momento. Por entender estes e outros benefícios para o seu negócio, aliado à sua confiança na economia, o produtor – acreditamos – passará a investir mais em armazenagem”.

A construção de silos na própria fazenda permite ao agricultor aguardar o melhor preço para vender a safra, favorecendo o retorno sobre o investimento, que tem custo médio de R$ 450,00 por tonelada. Além disso, como a construção é rápida, entre 120 e 180 dias o silo está pronto para operar, informa Hollmann.

E nesse campo a tecnologia também avança a passos ligeiros. “O destaque fica com as tecnologias voltadas para análise de dados, com o objetivo de agregar valor e qualidade ao processo”, comenta a coordenadora do GT ARM, citando equipamentos com inteligência embarcada, proporcionando ao cliente final maior assertividade nas tomadas de decisão, e gerando valor em toda a cadeia do grão.

“Outro aspecto interessante é a utilização de dados como forma de melhorar a experiência do cliente final, com atendimento mais qualificado através do uso de ferramentas de tecnologia durante o ciclo de vendas e pós-vendas. Também destacamos as soluções mecatrônicas completas, através de fornecimentos em regime de EPC (Engineering, Procurement and Construction), e, em produtos, novidades como as fornalhas metálicas e abastecedores de lenha e cavaco, roscas varredoras com zero entrada, máquinas de pré-limpeza automatizadas e com maior capacidade”, conclui Hollmann.