Feira de negócios e relacionamento: quatro anos resumidos em cinco dias

O sucesso da FEIMEC 2022 será o público retomando a visitação e vendo, fisicamente, tudo que foi lançado virtualmente. Essa frase condensa a expectativa dos expositores e, em maior ou menor grau, retrata a dos visitantes.

Fabricante de máquinas para processamento de bobinas metálicas, como linhas de corte, perfiladeiras e formadoras de tubos, a Esquadros Indústria e Comércio – segundo Luís Felipe Carrijo Silva, engenheiro de aplicações – entende o evento como “espaço propício para a exposição de novas tecnologias e a realização de negócios. Acreditamos que estar presente e expor ao mercado nossas soluções mais modernas é imprescindível para ficarmos mais próximos do cliente e para a promoção da nossa marca institucionalmente”.

“É importante mostrarmos que inovação e tecnologia estão no nosso DNA desde a fundação da empresa. Nós criamos tecnologia e, para isso, usamos muita tecnologia”, reforça Silva, informando que a Esquadros tem “investido maciça e continuamente para tornar os processos mais ágeis e digitais, mergulhando nossa fábrica na indústria 4.0, além de oferecer aos clientes recursos como comunicação direta com o sistema integrado ERP, e serviços como o comissionamento virtual ou assistência técnica e monitoramento remotos, usando acessos que atendem aos protocolos de segurança da rede industrial”.

Para João C. Visetti, CEO da Trumpf do Brasil, de 2018 a 2022, “a tecnologia evoluiu a passos largos e continua evoluindo. Vai em direção às funções inteligentes, que tornam as máquinas mais rápidas, mais precisas, garantem mais qualidade ao processo e, ainda assim, consomem menos energia e outros recursos. Ou seja, elas produzem mais, usando menos potência, com menos perdas e maior produtividade”.

Falando especificamente sobre as máquinas de corte a laser, Visetti garante que nesse caso, “o avanço tecnológico tem sido notável. As pesquisas são orientadas pelo binômio maior eficiência no uso dos recursos e menor consumo de energia, direta e indiretamente”. A comparação entre uma máquina lançada em 2018 com a versão mais recente quantifica a evolução: “De lá para cá, essa mesma máquina ficou 50% mais produtiva, com a mesma potência do laser. Se olharmos os últimos dez anos, ela ficou três vezes mais produtiva e consome 50% menos energia. Na área do laser, a nossa máquina de 12 kW de potência produz seis vezes o que produzia há dez anos. Em 2018, apresentamos nossa máquina de 6 kW. Hoje, com o dobro de potência do laser (12 kW) ela é três vezes mais produtiva”, reforça.

Demonstrar novas tecnologias e produtos de sua plataforma digital, voltados à digitalização de estamparias, é o objetivo da Prensas Schuler nesta edição da FEIMEC. Entre os itens que compõem essa solução, Patricia Martins – assistente Executiva de Diretoria e Marketing – cita “um sistema de monitoramento para prensas que combina câmeras e uma programação inteligente para acompanhar o processo de produção, em que é possível detectar o perigo em tempo real e interromper a prensa antes que os danos ocorram. Com isso é possível evitar danos em ferramentas, diminuir as interrupções na produção, melhorar a estabilidade dos processos produtivos e aumentar significativamente a produtividade”.

A consolidação, desde 2018, de muitas premissas que a indústria 4.0 trouxe para o mercado industrial é destacada por Gilberto de Godoy, diretor de Vendas e Marketing da Norgren, convicto de que “ainda há muito caminho a ser trilhado principalmente devido às dificuldades de investimentos das empresas neste cenário econômico ainda afetado pela pandemia e agora pela guerra na Europa oriental”.

Na mesma toada, a Sew-Eurodrive Brasil, fabricante de acionamentos para a indústria em geral e definida por Alexandre Reis – diretor-geral Brasil e América Latina da empresa – como pioneira em tecnologias para a industria 4.0, “seguiu avançando, inclusive, durante o período da pandemia da Covid-19. Nos últimos anos, seguindo a tendência da empresa em níveis globais, temos adequado com sucesso nossas operações, especialmente, o Complexo Industrial de Indaiatuba (SP), oferecendo aos nossos clientes soluções e serviços que vêm totalmente ao encontro de suas necessidades de automação e modernização”.

Reis destaca que “apesar de a Covid-19 ter sido um desafio inédito, com impactos sociais e econômicos de dimensões superlativas, a empresa vem atravessando toda esta turbulência com solidez. Conseguimos manter os nossos investimentos programados para o período, registramos crescimento de faturamento e, o mais importante, garantimos o emprego de 1.600 colaboradores e de cerca de 150 profissionais terceirizados no Brasil, além de preservar a cadeia de fornecedores e o seu fluxo de produção para nossa empresa”.

Enxergando a FEIMEC como “um ótimo canal para divulgação dos novos desenvolvimentos, além é claro de ambiente de networking com a indústria”, Elisângela Melo, diretora de Marketing de Vulkan do Brasil – fabricante de soluções em transmissão de potência como componentes para acionamentos e sistemas de frenagem – insere a empresa ao lado daquelas organizações que aceleraram “muito nos desenvolvimentos voltados à digitalização, e seguiremos nessa direção”.

A Zara Transmissões Mecânicas, por sua vez, na voz de Elenice Benatti, gerente da empresa, explica que durante os dois últimos anos, em termos tecnológicos, o segmento de redutores de velocidade “pouco evoluiu”, mas comemora o fato de que, nesse período, o mercado em que a empresa atua e, de modo mais abrangente, o setor de máquinas e equipamentos “foi o menos atingido pela crise que a pandemia causou. O efeito da pandemia foi atípico no setor. Acreditamos que, por conta da alta do dólar, as vendas aumentaram porque foi dada a preferência ao consumo de produtos nacionais pelo melhor preço naquele momento”.

Com atuação no Brasil e na América do Sul especificamente focada na solução para automação industrial CAD/CAM de sua matriz, a Cambrio norte-americana, a SigmaTEK Systems Brasil – que pertence ao grupo sueco Sandvik, voltado a tecnologia e engenharia – demonstrará as mais recentes soluções e buscará junto a cada cliente criar novas parcerias e fortalecer também as existentes com o mais recente em tecnologia na indústria 4.0”, resume Fernando Jank, seu diretor-geral, “demostrando e discutindo presencialmente as novas funções da versão 22 de nosso software”.

No estande da Metal Work, automação, digitalização, IoT, comunicação em nuvem e muitas tecnologias mais, que fazem a transformação digital e são tidas como habilitadoras para a indústria 4.0, estarão presentes, como “um guia de máquinas do amanhã, para que o visitante possa enxergar como sua empresa está e quais os passos que precisa adotar para criar um mapa estratégico, que inclua aprendizados e conhecimentos imprescindíveis, entre outros aspectos”, descreve seu diretor, Hernane Kaminski Cauduro.

Recordando que o foco principal da 4ª Revolução Industrial “são as máquinas”, o diretor da Metal Work enxerga o período da pandemia como “um acelerador também da entrada de pequenas e médias empresas na digitalização de processos”.

Esse ritmo imputado ao setor nos dois anos, para Cauduro, acentuou problemas que vinham sendo percebidos: “As tecnologias estão andando em uma velocidade muito grande, dificultando que as empresas mantenham-se atualizadas”.

Essa realidade, somada à ampliação da gama de produtos e de lançamentos, também afeta a área de formação de mão de obra, criando um descompasso, que agrava-se dia após dia: “No prazo de cinco anos, o modo de construir máquinas será diferente, os requisitos serão muito maiores, a ponto de uma boa parte dos fabricantes mudarem seu modelo de negócio”, prevê o diretor da Metal Work.

Ao pensar o futuro próximo, Cauduro desenha um cenário que tem como questão relevante os ganhos, que serão oriundos “de projetos, tecnologia e servitização. A indústria se tornará mais uma empresa de construções engenheiradas e de serviços”. Lista, ainda, o que é necessário para materializar essas previsões: “Precisamos de saltos tecnológicos, gerar informações, monitorar a máquina e criar uma inteligência no sistema que, inclusive, reduza estoques”.

Olhando para o intervalo decorrido entre a FEIMEC 2018 e a atual, Jank recorda que na segunda edição da feira, “um dos principais assuntos que vimos as empresas participantes tratarem e comentarem referia-se ao uso de equipamentos de corte e conformação de alta precisão e eficiência e o laser de fibra óptica, que era inovador. Os questionamentos eram a respeito dos impactos na produção e, claro, os investimentos envolvidos. Hoje, o foco migrou para a necessidade de tornar todos os processos mais precisos e melhores, mas, principalmente, acessíveis por meios virtuais, através da nuvem e independentemente da plataforma utilizada”.

O uso da inteligência digital e seus algoritmos – reconhece Visetti – deixou de ser tendência, pois “existem máquinas que produzem 24 horas x 7 dias sem a necessidade do operador”. Observa que a conectividade das máquinas traz vários benefícios, que convergem para economia de recursos, aumento da produtividade e ganhos na operação. Nesse contexto, para ele, no caso de máquinas de corte a laser de primeira linha, o movimento é em direção ao “fazer cada vez mais com menos recursos e, portanto, menos custo operacional”.

A área de dobra também é propensa ao aumento da produtividade – garante o CEO da Trumpf – “com otimização/automação do setup e utilização de células de dobra com programas que reorganizam a produção para redução do setup, economizando tempo de operação, entre outros benefícios”. Relata a situação ideal, que, espera, chegue ao Brasil nos próximos anos: “Na Europa, onde é mais difícil encontrar mão de obra, funcionam centros de dobra que operam dia e noite sem interferência humana, separam e paletizam as peças dobradas, tudo automaticamente”.

Com a meta de “fortalecer ainda mais a marca no mercado de automação industrial e controle de fluidos”, Godoy, lembra que a empresa “tem caminhado muito no sentido das soluções focadas na indústria 4.0, além de novas tendências para o mercado de manipulação de materiais tanto para estamparias quanto para galpões de armazenagens”. E o sinônimo de inovação realizada no período é apontado por Murillo Recioppo – coordenador de Vendas e Marketing da Norgren, ao citar uma linha de pressostatos eletrônicos com conexão Io-Link, “que permite aos nossos clientes o diagnóstico remoto da pressão do ar comprimido nas linhas de produção”.

O engenheiro de aplicação da Esquadros elenca as tendência por segmentos. Para atender o setor de geração de energia solar, por exemplo, a empresa “lançou a perfiladeira de perfis estruturais que estampa os perfis já conformados, sem paradas, com máxima precisão e produtividade, através de módulos de estampagem compactos, possibilitando a produção dos perfis usados como estruturas de placas fotovoltaicas em um único processo”.

Nas perfiladeiras, em geral, “há uma busca por flexibilidade, redução dos tempos de setup através da automação, além de módulos periféricos para ganho de eficiência e produtividade, como sistemas de empilhamento de perfis totalmente automáticos. Em relação às linhas de corte de bobinas, há uma procura crescente por máquinas capazes de processar aços de alta resistência – que podem chegar a até 1.800 N/mm2 – além de exigências cada vez maiores quanto à planicidade no corte de chapas e na eliminação de tensões residuais”, expõe Silva.

Indústria metalúrgica, fabricante de prensas mecânicas, servo-acionadas, hidráulicas, para forjamento, transfer, progressivas, bem como automação e serviços de inspeções de máquinas, manutenção preventiva, suporte à produção, peças de reposição, modernização, reformas, realocação de máquinas e otimização de estamparias, a Schuler, de acordo com Patrícia Martins – Executive Assistant to Board of Management & Marketing -, entende a informação como “grande aliada para a transformação digital das estamparias, que, com a utilização de tecnologias de Big Data Analytics, criação de banco de dados em tempo real e computação em nuvem, pode aumentar a produtividade e disponibilidade dos seus equipamentos”.

Para a diretora de Marketing de Vulkan do Brasil, as tendências em tecnologia também caminham por ”digitalização, monitoramento on-line, manufatura aditiva, desenvolvimento em novos materiais, novas soluções em dispositivos de segurança para diminuição de paradas não programadas”. Reconhece, ainda, que “as tecnologias utilizadas na fabricação de um redutor de velocidade consistem em máquinas CNC, máquinas de controle de medidas automáticas e robôs, que fazem a função de colocar e tirar as peças das máquinas”.

Já Elenice Benatti afirma que “as tecnologias dentro de um redutor de velocidade estão em seus materiais, como por exemplo nas ligas de aço, em tratamentos térmico específicos, em ligas de bronze. Além disso, os acabamentos de retífica dos dentes são de extrema importância para a durabilidade e eficiência do redutor de velocidade. Outra tecnologia que vem se aprimorando muito e contribuindo para isto, é dos lubrificantes, sempre buscando obter ganhos de longevidade das peças de desgaste”.

“A tecnologia tem evoluído muito rapidamente, tanto a de fabricação como a de produtos e equipamentos”, constata Warley A. Grotta Júnior, diretor da BGL – Bertoloto & Grotta, indicando que as tendências mais recentes envolvem “sensores de monitoramento, não especificamente para as buchas por porcas que fabricamos, mas para o rolamento que é fixado com os produtos que fabricamos”.

Mesmo tendo optado por não participar da FEIMEC 2022, Grotta reconhece: “A Feimec é uma vitrine, especialmente agora com o retorno das feiras presenciais depois de dois anos de pandemia”.

Relacionamento

Para algumas expositoras, a presença com estande na FEIMEC está vinculada mais diretamente à aproximação com o mercado, como é o caso da unidade brasileira da Sumitomo Drive Technologies, especializada em fabricação, montagem e assistência técnica de redutores e motorredutores de velocidade, inversores de frequência, entre outros produtos para transmissão de potência.

Neste caso, a FEIMEC é “uma oportunidade de estarmos mais próximos de nossos clientes, melhorando a comunicação e a presença da marca no mercado”, fala Eduardo Albuquerque, gerente de Marketing da Sumitomo, até porque, nesses quatro anos que separam a edição atual da FEIMEC da anterior, “de uma forma geral, não houve mudança significativa no mercado em termos de tecnologia nos produtos do segmento de transmissão de potência”.

De acordo com Albuquerque, “o que notamos foi uma maior preocupação com a vida útil dos equipamentos por parte dos usuários finais, e isso fez com que buscássemos soluções para apoiarmos nossos clientes nesse sentido. Com produtos da mais alta qualidade, nossa proposta é, constantemente, oferecer pacotes de soluções completos adaptados às necessidades de cada cliente, entregando sempre confiabilidade e robustez”.

Para Kátia Sousa – chefe de Marketing da Mitutoyo – depois de dois anos de distanciamento em razão da pandemia, “a participação na FEIMEC é muito importante e uma oportunidade para expor a nova linha de produtos da Mitutoyo e mostrar que, hoje, a empresa tem em todos os seus produtos a tecnologia pronta para smart factory. Todos seus instrumentos, equipamentos e máquinas se conectam entre si e fazem a gestão de dados em tempo real através de software que coleta, analisa e gerencia os dados para o controle estático de processos”.

Situando a Mitutoyo como “referência no segmento da metrologia dimensional”, Katia Souza destaca que a empresa, até em função da própria atividade com metrologia, atua fortemente com comunicação digital há algum tempo. Desse modo, os dois anos de distanciamento, que exigiram investimento por parte de algumas empresas, para a Mitutoyo foi tranquilo: “Quando foi declarada a pandemia e todos nós tivemos de ficar em quarentena, nossa plataforma de trabalho já estava toda preparada, já tínhamos os webinares e o nosso site é marketplace. Então, foi preciso somente aperfeiçoar o marketing digital. Desde 2020, foram 90 webinares com temas de aplicação de medição com 18 mil participantes ao vivo no total”.