Interdependência tecnológica e semelhança funcional

O desenvolvimento de equipamentos para novas matrizes energéticas, como gás, biocombustíveis e combustível verde é o foco das pesquisas realizadas pelas indústrias de motores e de grupos geradores, sem abandonar a busca de alternativas de redução de custos, maior eficiência energética e atendimento às leis de emissões de gases. Somam-se a isso adequação a preceitos da indústria 4.0 e inclusão de automação.

Enquanto não chegam propostas efetivas para biogás e biometano, há à disposição do mercado motores e grupos geradores chamados de híbridos, que operam com diesel+gás, dependendo apenas da procura e fornecimento abundante da matriz energética, avisa Reinaldo Sarquez, presidente da Câmara Setorial de Motores e Grupos Geradores da ABIMAQ (CSMGG), alertando que o desenvolvimento de nova tecnologia e novas matrizes energéticas dependerá “muito da complexidade do objetivo a ser alcançado; mas, em média, um novo projeto leva de três a quatro anos, e o custo será diretamente proporcional à velocidade a ser empregada no desenvolvimento”.

Exemplificando os desenvolvimentos, Sarquez destaca que “há interesse especial por parte do governo no caso de grupos geradores movidos a gás para gerar energia elétrica em algumas localidades do País, uma vez que o gás existe em larga escala, além de deter uma logística mais amigável”.

Uma atividade conduz a outra

Usualmente fabricados por empresas globais, os motores têm seu desenvolvimento tecnológico realizado em centros de pesquisa e de excelência mundiais e, inclusive, em parceria com universidades; enquanto os grupos geradores, também montados com tecnologia própria de cada empresa, podem incorporar motores dos principais fabricantes.
Nesse contexto está a MWM, fabricante de motores de 2,9 litros a 7,2 litros, com potências de 30 HP a 415 HP, que atendem aos segmentos veicular, agrícola, industrial, geração de energia e marítimo. Afiliada do grupo norte-americano Navistar, a MWM lançou sua linha própria de grupos geradores diesel (de 12,5 kVA a 1.250 kVA) e a gás natural e biogás (80 kVA a 620 kVA).

A fabricante dispõe de um centro de desenvolvimento de motores e grupo geradores em São Paulo, “um dos laboratórios mais bem equipados do segmento, onde desenvolve sua própria tecnologia para atender aos níveis mais exigentes de qualidade e eficiência”, informa Cristian Malevic, diretor da Unidade de Motores e Geradores da MWM. E foi neste centro de pesquisa que a MWM desenvolveu uma linha de motores específica para geração de energia para equipar exclusivamente seus grupos geradores, “oferecendo alto rendimento de combustível, alto nível de qualidade e com extensa rede de peças e serviços, pois o suporte ao cliente é prioridade em toda a cadeia”, avisa.
Especializada em motorizações para os segmentos on-road, off-road, marítimo e de geração de energia, com range de potência máxima de 31 kW (42 hp) até 740 kW (1.006 hp), além de soluções customizadas, a FPT Industrial – uma marca da CNH Industrial –, na América do Sul, conta mais de 655 mil motores da marca em circulação e produziu mais de 400 mil motores para geradores de energia.

Esse volume de produção conferiu à empresa expertise para criar sua própria linha de geradores de energia para aplicações de emergência, potência prime e potência contínua, nas configurações cabinada e aberta, com faixa de potência de 30 kVA a 700 kVA, e possibilidade de customização ao cliente, indicados para centros urbanos, indústrias, mineração e agronegócio, dentre outras inúmeras possibilidades de aplicação, inclusive em condições severas de operação.
Nesta categoria também estão a Yanmar South America Indústria de Máquinas e a Cummins do Brasil.

A Yanmar importa parte dos motores diesel – preparados para Diesel de B10 até B15 – da matriz no Japão e completa a montagem dos periféricos aqui no Brasil. Modelos da série “TNV”, com potência entre 10,9 CV e 91 CV, os motores de 36 CV a 85 CV atendem a tecnologia MAR1. Além disso, em parceria com outras empresas – como Weg e Bambozzi, por exemplo –, produz grupos geradores monofásicos e trifásicos com potência entre 4 kVA e 75 kVA.

Voltada a soluções de energia, a Cummins lista, entre seus produtos, motores movidos a diesel e gás natural, além de grupos geradores de 3,5 kVA até 4.375 kVA. Heber Jordão, gerente de Power Systems da Distribuidora Cummins Brasil (DCB), frisa que “todos os mercados que necessitam de um grupo gerador são suportados com produtos e serviços Cummins”, com um diferencial, segundo ele: “A companhia se destaca por ser a única fabricante a projetar a completa arquitetura de um grupo gerador (motor, alternador, controlador, turbos e filtros) com tecnologia integrada para todos os segmentos de mercado e aplicações necessárias”.

Grupos Geradores

Com objetivo de prover energia em locais onde não há energia elétrica e cobrir faltas de energia em casos de emergências quando há interrupção de fornecimento por parte da concessionária, os grupos geradores também são utilizados quando a tarifa da concessionária de energia elétrica é mais alta. Essa aplicação, cada vez mais corriqueira, visa a reduzir os custos de energia em horário de ponta, período normalmente compreendido entre as 18h e 21h, nos dias úteis.

Mercado – No balanço da maior parte das empresas, o mercado está aquecido e há quem até arrisque afirmar que o setor foi beneficiado pela pandemia, afinal, grupo gerador é essencial em hospitais, indústrias farmacêuticas, laboratórios, supermercados, indústrias e distribuidores de alimentos, agronegócio, assim como em edifícios residenciais, que tiveram sua carga elétrica sobrecarregada com o home office.

Embasado nas afirmações dos membros da CSMGG emitidas na reunião de outubro, Sarquez relata que “o primeiro semestre foi realmente preocupante, como para todos os demais segmentos da indústria nacional. Contudo, a partir de agosto de 2020 as empresas e o mercado têm registrado melhora sensível, o que nos permite sonhar”.

Para alguns o sonho é realidade. A Cummins, no período da pandemia, conquistou participação em aplicações críticas com produtos HHP para data centers, hospitais e indústrias. “Celebramos também alguns marcos importantes: entre os meses de abril e julho, como o fornecimento de mais de 14 mil kVA com novos grupos geradores destinados aos serviços essenciais A maioria dos equipamentos fornecidos entre 300 kVA e 625 kVA de potência, todos fabricados no Brasil, foi entregue para o segmento da saúde”, conta Jordão.

“Atualmente, somente estamos realizando vendas para entregas a partir da segunda quinzena de janeiro de 2021 devido à grande demanda”, garante Marco Antonio Donikian, diretor Comercial da Maxi Trust Grupos Geradores, empresa sediada em Curitiba (PR) com presença em todo o território nacional, que fabrica grupos geradores de energia a diesel e a gás, nas potencias de 40 kVA a 1.600 kVA.

Na mesma toada, a Bambozzi Alternadores, como informado por João Carlos Maffei – supervisor de vendas da empresa responsável pela montagem de grupos geradores de energia de 25 kVA A 400 kVA –, em 2020, registra aumento das vendas, além de manter as exportações de 5% da produção de alternadores (item inserido em seu portfólio desde 1950) para Paraguai, Bolivia, Zimbabue e Angola.

O agronegócio foi o setor que menos sofreu durante a pandemia e – devido à queda significativa principalmente nos segmentos relacionados a serviços entre março e julho deste ano – “trouxe certa estabilidade aos negócios da MWM”, avalia Malevic, ao dizer que, no segundo semestre, “o mercado cresceu significativamente, com números próximos aos meses anteriores à Covid-19, impondo grande desafio à cadeia de fornecedores, que como medida de contenção à crise, estava com níveis baixíssimos de estoque e caixa”.

Na opinião do diretor da Unidade de Motores e Geradores da MWM, “o mercado continuará aquecido, podendo estabilizar ou recuar um pouco após o término do auxílio emergencial para a Covid-19, contudo, o perfil de consumo em diversos setores não será mais o mesmo daqui para frente, e estamos atentos a essas mudanças”.

Atuando em diversos segmentos da economia – desde equipamentos de refrigeração para transporte de produtos perecíveis e em transportadores/carretas agrícolas; bombas d’agua; rolo compactador, vibroacabadoras, perfuratrizes, sinalização etc.; até tratores, pulverizadores e colheitadeiras, a Yanmar sente “o mercado aquecido e em expansão. Com isso, iremos superar as metas estipuladas para o ano de 2020”, atesta Edison Shigueo Yamamoto, gerente Comercial da Yanmar, lembrando que no início do ano já fora registrado crescimento, mas em abril, “resultado da pandemia, ocorreu uma queda e, em maio, a retomada em V”.

Por estas declarações é até possível deduzir que as empresas desse setor estão passando incólumes à pandemia, afinal, grupo gerador é equipamento essencial a atividades diretamente vinculadas às áreas que se mantiveram ativas durante a pandemia. Mas há divergências.

Ao mesmo tempo em que para algumas empresas o setor de motores e de grupo geradores registram grande aumento na demanda – inclusive do mercado internacional – a ponto de haver dificuldade em atender as solicitações, há gargalos a serem vencidos, como crédito por parte dos clientes.

Sem precisar os resultados da empresa, o engenheiro eletricista Tiago Vargas, da Nema Energy – produtora de grupos geradores que podem ser instaladas em paralelo, sem restrições, para atender a potência necessária do projeto, inclusive com utilização de gás natural –, com relação ao segundo semestre do ano, verificou que o mercado tendeu para “produtos engenheirados, com projetos complexos, com mais máquinas e em alguns casos turnkey, oferecendo solução completa, desde a fabricação até a instalação e start-up da máquina”.
“Acreditamos que, com a retomada da economia, teremos um 2021 com mais fartura se comparado a todos os desafios enfrentados em 2020 devido à pandemia”, fala Diego Ferreira, responsável por Marketing e Comunicação da Maquigeral, que computa mais de 50 mil geradores de energia entregues, tanto em território nacional, quanto exportados.

Pesquisas – Os investimentos da Maxi Trust em pesquisa e desenvolvimento vêm sendo direcionados a “produtos mais compactos com alto rendimento, baixo nível de ruído, consumo de combustível e emissão de poluentes’, informa Donikian, definindo como confidencial a informação sobre possível desenvolvimento com novos combustíveis.

A inovação, no caso da empresa de Bambozzi, envolve a aplicação de painéis automáticos com acesso remoto via internet, além de estar pesquisando a adequação de seus equipamentos ao biogás para aplicação no agronegócio.

“Nossa gama de produtos está sempre em crescimento e em desenvolvimento para criarmos e lançarmos novas linhas de produtos que o mercado necessita”. Com esse lema a Maquigeral, segundo Ferreira, estuda as possiblidades do mercado e as necessidades dos clientes no que tange a novos combustíveis. A novidade da empresa fica por conta de um equipamento com tanque de diesel removível, “inovação que facilita a manutenção, por exemplo”, atesta o responsável pelo Marketing e Comunicação da empresa.

Segundo Vargas, o destaque, na atualidade, envolve a adaptação dos equipamentos aos princípios da indústria 4.0, “com monitoramentos e operação dos grupos geradores em dispositivos móveis e/ou computador, podendo o usuário inclusive obter informações do equipamento, a exemplo de consumo, operação, status, entre outras”.

Duas novidades da Cummins Brasil chegaram ao mercado e, para 2021 novos lançamentos estão previstos. Fabricado no Brasil e com inovações lideradas pelo time de engenharia do Brasil em parceria com EUA e China, foi lançado grupo gerador com novo sistema de combustível, capaz de fornecer maior pressão de injeção, resultando em queima de combustível eficiente para emissões limpas e economia de combustível otimizada, que atende à norma de emissões Stage 2, e disponível nas versões de 50 hz e 60 hz.

A empresa também anunciou o lançamento da próxima geração de grupos geradores. “A nova série oferece um pacote com capacidade de geração a gás e tecnologia inovadora para diversas aplicações. Representa um passo ousado da Cummins nas aplicações a gás, com nova tecnologia e um novo motor que juntos impulsionam níveis de eficiência, desempenho e variação de fonte de gás, muito além dos antigos geradores de gás combustível”, comemora Jordão, avisando que o equipamento tem potência unitária de até 2.0 mW a partir de um motor de 78 litros, sendo adequado para aplicações agrícola, mineração e manufatura, entre muitas outras, e passível de operar em temperaturas quentes (até 55°C) e altas altitudes.

Tecnologia e renovação da matriz energética via aplicação de novos combustíveis são temas que dominam os investimentos em P&D, realizados em âmbito global.

Tecnologia e novos combustíveis – Quando a pauta trata de motores para produção de energia via grupo geradores, dois temas caminham juntos na atualidade: tecnologia e renovação da matriz energética via aplicação de novos combustíveis, e são realizados em âmbito global, por empresas mundiais, independentemente do país de origem.

O investimento contínuo no desenvolvimento e na aplicação de novas tecnologias em motores e grupos geradores está previsto em um plano anual e consiste em atividade permanente da MWM, que, para isso, mantém laboratórios e centro de pesquisas com grupos de engenheiros dedicados.

Na MWM, os últimos desenvolvimentos englobam renovação completa dos novos motores para geração de energia, “não somente em componentes internos como pistões, virabrequim, coletores, turbocompressores, entre outros, como receberam novos sistemas e novos parâmetros de combustão para maximização dos níveis de desempenho, durabilidade e eficiência termodinâmica”, diz Malevic, e complementa: “Ainda em geração de energia elétrica, lançamos no segundo semestre deste ano linha de motores à gás natural e, neste momento, estamos lançando uma completa linha de motores à biogás. Acreditamos muito que o metano será o combustível que passará a ser amplamente utilizado, não somente no Brasil, mas globalmente, por isso, ele é o nosso foco em combustíveis alternativos, no momento. A base destes motores poderá derivar outros tipos de aplicações no futuro”.

Definindo-se como “uma marca de powertrain 4.0, que oferece soluções a clientes 4.0”, a FPT Industrial desde 2015 realiza investimentos no desenvolvimento de tecnologia e preparação das unidades para a produção dos motores MAR-I/Tier 3. O desenvolvimento de novos propulsores movidos a combustíveis alternativos, como o motor FPT F1C Gás Etanol e a aquisição da Potenza Technology, expandindo a capacidade tecnológica em soluções para a eletrificação, reafirmam o DNA inovador da marca”, comemora André Faria, especialista de Marketing de Produto da FPT Industrial para a América do Sul, e frisa: “A FPT Industrial tem um de seus sete centros de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) mundiais instalado em Betim (MG)”.

Tendo como plano estratégico o fornecimento de motores de múltiplas fontes de energia para todos os segmentos em que atua, a FPT trabalha, há mais de 25 anos, com tecnologia própria para utilização de Gás Natural, voltada a caminhões. Possui motores movidos a biometano para tratores conceito das marcas do grupo; desenvolve soluções elétricas de powertrain e projetou motor conceito para variadas aplicações em veículos que pode usar gás natural, geração elétrica por células de combustível de hidrogênio ou energia armazenada em bateria. Motores elétricos também estão no foco da empresa.

Dos mais de US$ 700 milhões direcionados pela Cummins anualmente a Pesquisa e Desenvolvimento, sendo US$ 13 milhões aplicados no centro de desenvolvimento de tecnologias localizado na fábrica de Guarulhos (SP), parte é voltada à pesquisa de combustíveis. Na linha de grupos geradores, a companhia está desenvolvendo produtos para complementar a linha a gás. Mundialmente também implementou a divisão Eletrificação, que inclui aquisições de empresas de baterias e soluções com eficiência energética superior. Jordão recorda a experiência da empresa nesse campo: “A Cummins foi pioneira em oferecer uma solução para caminhão com motorização totalmente elétrica”.

Competência internacional – Os fabricantes desses equipamentos são unânimes ao afirmar que as empresas brasileiras e as instaladas no Brasil estão no mesmo nível tecnológico de outros países como Alemanha, EUA, China e Japão, entre outros, até porque os motores aplicados em grupos geradores são produtos de aplicação global, com pequenas diferenças de tecnologia em função de regulamentações específicas de cada setor em diferentes países, mas, no geral, permitiria às empresas exportarem muito mais para outros mercados.

“O Brasil produz equipamentos robustos e com tecnologia de ponta. O reflexo da qualidade do produto brasileiro é que grupos geradores importados não possuem participação expressiva no mercado brasileiro, sendo este mercado dominado por produtos fabricados no Brasil”, atesta Donikian.

À essa equiparação tecnológica, até porque muitas empresas de motores “são multinacionais e detém tecnologia similar as dos países de primeiro mundo”, o presidente da CSMGG agrega o fato de o Brasil destacar-se “por um fator ainda mais preponderante devido ao pioneirismo no desenvolvimento de motores movidos a diesel de cana-de-açúcar”.

Decorrente da capacitação tecnológica dessas empresas, as exportações são usuais, sejam de motores, grupos geradores ou peças de reposição para diversos países.

No caso da MWM, as exportações representam algo em torno de 20% dos negócios e direcionam-se a mais de 45 países. Já a Maquigeral, de acordo com Ferreira, objetiva “expandir as exportações de forma escalável” a partir de 2021.