O Brasil, no que diz respeito ao setor de logística e movimentação de materiais, está atualizado tecnologicamente, com alguns segmentos no estádio conhecido como estado da arte, com centros avançados de tecnologia e logística instalados aqui, assim como algumas das maiores universidades também estão atualizadas com as tecnologias do Exterior. O gargalo dessa atividade – a exemplo do que aconteceu em tantas outras – é a viabilização econômico-financeira de projetos. A economia melhorando, o mercado melhora, naturalmente. Em outras palavras, os prognósticos para 2019 são positivos, mas para 2020 são muito melhores.
A mudança de ritmo foi notada já em 2018 pelos 62 fabricantes de empilhadeiras, transpaleteiras, guincho, talha e trole, carrossel, rebocador e transportador, guindaste, ponte rolante, pórtico, plataforma elevadora, rebocador, veículo autopropelido para transporte de carga, entre outros com afinidades ao segmento vinculados à CSMAM e também pelas 12 empresas associadas ao Grupo de Trabalho de Guindastes, da ABIMAQ.
As empresas fecharam 2018 dentro das metas. O crescimento foi de aproximadamente 5% em relação a 2017, comemora o presidente do CSMAM
Nesse universos, após quatro anos, “todo mundo fechou o ano dentro das metas, o que é significativo, pois são empresas com produtos e portes variados. A meta é retomar os níveis de 2013. Em 2018, notamos que houve crescimento de aproximadamente 5% em relação a 2017”, informou Jair Alves, presidente da Câmara Setorial de Equipamentos para Movimentação e Armazenagem de Materiais (CSMAM), da ABIMAQ, situando a expectativa dos empresários para este ano de crescimento nos mesmos patamares, incluindo sua empresa, a Translift, no grupo.
Tendências de mercado
José Alfredo Marques da Rocha, presidente da IMAP Indústria e Comércio, lista agricultura e eletrificação entre os segmentos mais atraentes no momento e lembra que o segundo depende de investimentos e demanda equipamentos para elevação de pessoas e para operações em linha viva que possam operar com segurança e alta produtividade. Soma, ainda a construção civil – principal fator da retração da economia e do segmento de movimentação de cargas – que, em 2019, deve iniciar sua reativação, proporcionando ganhos às empresas.
As oportunidade de exportação de máquinas e equipamentos são a aposta de Rogério De Antoni, vice-presidente da HYVA do Brasil, desde que feitas “para onde somos competitivos em preço, é claro, o que condiciona as exigências de qualidade e adaptação técnica a cada mercado específico”, comenta.
Pensando especificamente em segmentos da economia, Marcelo Fortuna, diretor regional Latam Sul da Columbus McKinnon, vê espaço para a empresa se fortalecer como fornecedora para o mercado de energia eólica e de transmissão de energia, e garante: “Estamos otimistas, até porque os clientes estão percebendo que comprar só pelo preço é prejudicial. Hoje, estão buscando equipamentos com durabilidade e qualidade, que gere produtividade”, resume.
No Brasil, em breve, a eletrônica embarcada estará mais presente, garante GT Guindastes
Reinaldo A. Moura, diretor e fundador do Grupo IMAM – instituição focada em consultoria, treinamento, livros e pesquisas em logística e suplly chain – entende os setores farmacêutico, cosmético e de alimentos processados como os segmentos mais promissores. Faz, ainda, um destaque: “Há milhares de oportunidades de operar com o e-commerce, pois o mercado de locação de galpões logísticos para dar suporte à rápida distribuição dos produtos ou acomodação de plantas industriais também é atividade em grande crescimento nas grandes metrópoles”.
Ao lado de todos esses segmentos da economia, Paulo Vale – gerente de negócios da Águia Sistemas – agrega o setor automobilístico desde que “as boas perspectivas para economia realmente aconteçam”. Já Eliézer Franchi, gerente comercial da GH Pontes Rolantes, inclui geração de energia e papel e celulose, além de vislumbrar oportunidade em Naval, Ferro e Aço, Plásticos, entre outros.
Sergio Luiz Eidt, diretor da Ciriex Abus Sistemas de Elevação, lembra, ainda, do setor de transporte, de distribuição e de venda de matérias -primas para as indústrias em geral, assim como fabricantes de automóveis e da linha branca, entre os merecedores de atenção por parte dos fabricantes de equipamentos de movimentação e armazenagem.
Nessa condição de retomada do desenvolvimento econômico, todos os mercados, em maior ou menor escala, crescerão, mas há de considerar a capacidade ociosa, situada – pelo diretor do IMAM – na casa dos 20% apenas na indústria. “Somente atingindo os 90% de ocupação é que as empresas planejarão expansões com a aquisição de novos equipamentos e galpões logísticos. Por isso, para este ano a instalação de equipamentos ainda é tímida e vinculada, basicamente à reposição de alguns equipamentos obsoletos”, constata Moura.
“Cada vez mais a proximidade com o cliente final e o maior conhecimento dos equipamentos versus a aplicação a que se destina são fatores de sucesso para atendimento das necessidades deste mercado altamente competitivo e dinâmico”, comenta Rocha, alertando para a importância do conhecimento aprofundado sobre a aplicação dos bens de capital no cliente, pois, atualmente, “todas as empresas de movimentação de carga decidem o investimento pelo pacote completo de vantagens que a solução pode trazer para o negócio”.
Posição semelhante é expressa por Fortuna, até em função de, durante os anos de crise da economia, “nossos clientes terem migrado para manutenção, levando-nos a investir em serviços e em peças de reposição. O foco hoje também é pós-venda. Por isso, investimos cerca de 2% do faturamento anual em educação dos nossos funcionários, seja em formação profissional, seja em suporte a carreira”.
Evolução tecnológica
Quando o assunto é crescimento, automaticamente a conversa ruma a tendências e tecnologia. Os associados ao GT Guindastes, da ABIMAQ, citam a utilização da eletrônica embarcada na movimentação de cargas como a principal tendência, o que envolve uso de controle remoto, controles de estabilidade e limites de carga e também abertura e fechamento dos guindastes articulados de forma automática. “Nos mercados europeus a eletrônica embarcada já é uma realidade e acreditamos que no Brasil veremos este tipo de acessório de forma expressiva a médio prazo”, explica o coordenador do GT, Thiago Vitola.
“A utilização de materiais de alta resistência e a busca e aplicação de acessórios nos guindastes são destaques a curto prazo. No que tange a médio e longo prazos, os mercados tentem a necessitar de aplicações específicas e de maior desempenho. O setor conta com alguns lançamentos, inclusive com algumas patentes. Na área de apoio à eletrificação, o destaque é o Cesto Articulado Telescópico e no segmento de saneamento a Retro para caminhão com braço telescópico extensivo”, informa Vitola.
Outra tendência assinalada pelos membros do GT Guindastes é a migração para modelos mais seguros e modernos de guindastes articulados, os chamados “modelos canivetes”, que apresentam melhor performance, são muito mais seguros na operação, no equilíbrio e na estabilidade do sistema, assim como na otimização dos tempos de operação, na preservação do caminhão e do próprio guindastes, “uma vez que apresentam centro de gravidade centralizada no eixo transversal do caminhão, e as válvulas de carga permitem trabalhar na capacidade máxima com segurança e para a longevidade dos equipamentos”, explica Antoni.
Na Logística 4.0, há, por exemplo, pontes rolantes autônomas, monitoradas por câmeras e sensores
Falando sobre equipamentos e soluções, Moura destaca que nos últimos dois anos, as tendências se apoiaram na tecnologia e na automação, com logística 4.0, cobots (robôs colaborativos autônomos), AGVs (sigla em inglês para veículos automaticamente guiados) etc. “Atualmente, a maioria dos equipamentos de manufatura e movimentação estão se conectando à Indústria 4.0, e a metodologia Lean – fazer o máximo de resultados com o mínimo de recursos, um desdobramento do Sistema Toyota de Produção – continua sendo atual e necessária”, comenta o especialista.
As pesquisas com relação à movimentação autônoma e automatização dos processos de movimentação, por exemplo, “caminham para o desenvolvimento de algoritmos inteligentes”, comenta o diretor e fundador do Grupo IMAM, frisando que, “com o advento de AGVs e drones cada vez mais acessíveis economicamente, um grande universo de aplicações se abriu, desde levar peças dentro de fábricas e armazéns, até a execução de inventários (contagem), fazendo uso dessas soluções”.
Automação é palavra de ordem na Ciriex Abus, garante Eidt, exemplificando com os lançamentos programados, baseados no conceito de indústria 4.0, como sistema de comando elétrico modular para pontes rolantes e controle remoto que mostra a carga içada em pontes rolantes, por exemplo, no display.
Lembrando do centro de pesquisa e inovação na Alemanha através da Universidade KION, “criado para pensar em novas soluções, contribuindo para a evolução da indústria de movimentação e logística onde estão presentes engenheiros de diversos países”, Murilo Marin – gerente de Vendas do Grupo Kion no Brasil – frisa que “a interação entre máquinas, estruturas, linhas de produção, expedição através da comunicação eficiente e autônoma é uma tendência no mercado e realidade em algumas empresas, como as do Grupo Kion. Possuímos cases de sucesso em Logística 4.0, com integração de todo o processo. Estamos muito otimistas com a evolução e mais do que fazer parte, queremos servir de parâmetro ditando novos rumos da indústria no constante investimento em novas tecnologias e desenvolvimento de novos produtos e serviços”.
Franchi, focado no negócio de sua empresa, frisa a tendência crescente de automação de pontes rolantes, criando pontes inteligentes: “Hoje, em alguns setores, como o de resíduos sólidos, já temos pontes rolantes trabalhando totalmente autônomas, com identificação através de câmeras e sensores, podendo trabalhar 24h por dia, ininterruptamente”, constata.
Por sua vez, Paulo Vale reforça a necessidade de atender cada vez mais pedidos menores e em menor tempo, o que favorece investimentos em automação de picking. “Hoje, temos condições de automatizar toda a operação de montagem de pedidos, desde o abastecimento, apanhe, conferência, até o envio a endereços de coleta, aplicando estruturas como o flow-rack, transportadores, sorters, robôs e outros”, comenta ao informar que como parceria oficial da Dematic, a Águia, que disponibiliza ampla gama de produtos como transelevador, mini-load, AGVs, entre outros.
O mercado atrai também outros atores, como a Manitou, que sugere a inserção de manipuladores com ganhos de performance, afinal, segundo Marcelo Bracco, diretor geral da empresa no Brasil, “o manipulador tem como principal diferencial o alcance da carga e a agilidade, substituindo máquinas grandes e caras, com ganhos de segurança e risco zero para o operador. Além disso, a facilidade de utilização e a grande versatilidade de operação garantem ganho de produtividade e segurança”.
A falta de conhecimento da máquina, frisa Bracco, exige que a empresa invista em formação e informação do mercado ou, como prefere o executivo, “em trabalho de catequização”.
Os aplicativos e as startups são listados pelo gerente de Vendas Grupo Kion, que ressalta a importância da logística para que os resultados sejam obtidos. “Hoje, temos uma revolução de novas empresas em forma de aplicativos que surgem através de startups e que, em pouco tempo, passam a ser relevantes nos segmentos em que se propõem a atuar. Na maioria dos casos, para não se dizer em todos, as propostas vão além da oferta de bens, pois envolvem gerar facilidade, praticidade e conveniência. Acontece que nos bastidores destes aplicativos o ganho em competitividade resulta da eficiência logística. Estamos atentos a toda esta movimentação, estamos vivendo uma revolução tecnológica que não tem prazo para terminar e precisamos estar prontos”, alerta.