Entrevista com Raul Jungmann: perspectivas para indústria mineral

Perspectivas seguem muito positivas em termos de resultados para a indústria mineral brasileira

O setor mineral no Brasil vê os investimentos em inovação tecnológica pela indústria de máquinas e equipamentos como aliados importantes da expansão do setor mineral, contribuindo para estabelecer adequados níveis de produtividade e de competitividade da cadeia da mineração, destaca Raul Jungmann. Por esse motivo, a EXPOSIBRAM sempre mantém espaço nobre reservado para a exposição de máquinas e equipamentos que podem revolucionar a forma de se conduzir um empreendimento mineral.

Em entrevista exclusiva para a Máquinas & Equipamentos, Raul Jungmann, presidente do IBRAM desde março deste ano, fala sobre a mineração no Brasil e as expectativas para este ano, com a retomada dos eventos presenciais, em especial a EXPOSIBRAM 2022, que acontece em setembro.
Entre os temas, estão, ainda, a contribuição e a importância das pequenas e médias mineradoras para a atividade de extração mineral; a necessidade de conter o avanço do garimpo ilegal e a importância da adoção dos princípios do ESG (Environmental, Social, and Corporate Governance, sigla em inglês, que pode ser traduzida como governança ambiental, social e corporativa), das boas práticas e dos padrões técnicos aceitos internacionalmente para a sustentabilidade do setor e das empresas que nele atuam.
Na busca de solução para os problemas enfrentados pela mineração brasileira, o presidente do IBRAM defende “a união de forças capazes de estruturar propostas factíveis e atrair apoio para enfrentar as organizações que cometem verdadeiros crimes contra as pessoas, a natureza, a Amazônia e a economia”.
Confira!

Raul Belens
Jungmann Pinto

Empossado como presidente do IBRAM em 1º de março de 2022, a vida pública de Raul Belens Jungmann Pinto teve início em 1990, quando respondeu pela Secretaria de Planejamento do Governo do Estado de Pernambuco por um ano. Na sequência, transferiu-se para Brasília (DF), assumindo diversos cargos de destaque em âmbito federal.

De secretário-executivo do Ministério do Planejamento e Orçamento e Gestão da Presidência da República, nos anos de 1993 e 1994, passou a presidente do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) em 1994, de onde ascendeu a ministro Extraordinário de Política Fundiária, posição exercida concomitantemente com a Presidência do Instituto Nacional de Reforma Agrária (INCRA), no período de 1996 a 1999.

Nos anos seguintes, atuou como ministro do Desenvolvimento Agrário (1999 a 2002); secretário-executivo do Comitê de Controle das Estatais/CCE, do Ministério do Planejamento; ministro da Defesa (2016 a 2018) e ministro da Segurança Pública (2018).

Afastando-se da carreira pública, Jungmann, em 2020 foi cofundador e exerceu a função de presidente-executivo de duas iniciativas não governamentais em São Paulo (SP): IREE Defesa & Segurança e Centro Soberania e Clima.

Todas essas atividades foram permeadas pela presença em conselhos e comitês de diversas instituições, como Banco do Brasil, BNDES, Fundo Nacional de Desenvolvimento, Comitê de Controle das Estatais (CCE), Conselho Monetário Nacional (CMN), Conselho Nacional do Meio Ambiente, Banco da Terra, Conselho Nacional de Desenvolvimento Rural e Conselho do Porto de Suape.

M&E – Este ano, a Expo & Congresso Brasileiro de Mineração (Exposibram 2022) retorna ao formato presencial e acontece de 12 a 15 de setembro, no Expominas, em Belo Horizonte (MG). Quais as expectativas em número de expositores e de visitantes, área e negócios?
Raul Jungmann –
Há um cenário de boas perspectivas de expansão dos negócios no setor mineral e após um certo represamento nos contatos, motivado pela pandemia, acreditamos que a EXPOSIBRAM 2022 vai superar as edições presenciais anteriores em termos de visitantes e negócios firmados. Calculamos que iremos receber cerca de 50 mil participantes.

M&E – O que o visitante que for à Exposibram 2022 vai encontrar em termos de novidades e tecnologia?
Jungmann –
Os expositores não informam esses temas ao IBRAM previamente. As inovações tecnológicas voltadas a uma maior competitividade deverão ser destaque, principalmente pelas mineradoras que participam do Mining Hub (www.mininghub.com.br), um espaço de inovação aberta que tem o apoio do IBRAM. Ali diversas soluções foram desenvolvidas e estão em uso pelas mineradoras. Na EXPOSIBRAM certamente elas irão mostrar esses avanços.

M&E – O setor de mineração vem registrando resultados muito bons. Como está caminhando 2022 em relação aos anos anteriores? Quais fatores contribuem para o resultado apresentado? O que esperar para este ano?
Jungmann –
O setor mineral tem uma movimentação cíclica e os números mostram esse comportamento. Depois de um resultado global bem positivo em 2021, a mineração brasileira observou um pequeno recuo no 1º trimestre de 2022 e leve recuperação no 2º trimestre. O fator de mudança é principalmente o comportamento da China, principal consumidora dos minérios do País. Ela retraiu um pouco as compras e isso provoca reflexos. Mas nada considerado anormal. Portanto, as perspectivas seguem muito positivas em termos de resultado para a indústria mineral brasileira.

M&E – Quanto as pequenas e médias mineradoras representam no setor? Qual sua importância e qual sua contribuição para o setor?
Jungmann
– São cerca de 90% do setor mineral. Elas representam a mineração que o brasileiro conhece de perto. Por exemplo, as empresas que produzem minérios para a construção civil, geralmente situadas nas proximidades dos centros urbanos. As pequenas e médias são essenciais para que a sociedade possa contar com insumos fundamentais para gerar muitos dos bens consumidos e gerar empregos e renda locais.

M&E – Como as máquinas e os equipamentos contribuem com o setor?
Jungmann –
São fundamentais para estabelecer os adequados níveis de produtividade e de competitividade. A inovação tecnológica nesse segmento é aliada da expansão do setor mineral. A EXPOSIBRAM sempre mantém espaço nobre reservado para a exposição de máquinas e equipamentos que podem revolucionar a forma de se conduzir um empreendimento mineral.

M&E – A Rede de Financiamento para o Desenvolvimento e Atração de Investimento na Mineração, chamada Invest Mining, está caminhando? Quais os benefícios e como a indústria de máquinas e equipamentos pode se beneficiar dela?
Jungmann –
A Invest Mining (www.investmining.com.br) está em estruturação. Já foi lançado um primeiro edital para apresentação de projetos candidatos a receberem financiamento. Há um esforço para atrair mais apoiadores e despertar a atenção dos investidores. A indústria de máquinas e equipamentos é uma beneficiária direta de qualquer expansão que venha a ocorrer na mineração, portanto, deve se envolver como apoiadora e promotora da Invest Mining.

M&E – Para onde e para quais produtos caminha a mineração? Quais os gargalos para expansão?
Jungmann –
Há uma evolução em andamento relacionada à produção de minérios estratégicos para a inovação tecnológica, de modo a proporcionar a transição energética e a descarbonização da economia. São minérios como tântalo, vanádio, estanho, níquel, terras-raras, entre tantos outros. Um gargalo é a fragilidade da pesquisa mineral no Brasil. Cerca de 3% do território está mapeado geologicamente em escala adequada para a mineração. Se faz necessário ampliar este percentual para aumentar a oferta de minérios e propiciar a diversificação da produção.

M&E – Como a mineração contribui para a melhoria da vida das pessoas?
Jungmann –
Praticamente tudo o que consumimos ou contém minérios ou foram produzidos a partir desse insumo. Até mesmo a produção de alimentos precisa de fertilizantes, cuja fabricação envolve minerais. Medicamentos, aviões, carros, celulares, máquinas e equipamentos só existem porque há oferta de minérios.

M&E – Este ano, a Vale comemora 80 anos (nesta edição da M&E há matéria sobre essa empresa). Qual a importância desse fato para a mineração brasileira? Qual a contribuição dessas mineradoras para as demais empresas do setor?
Jungmann –
São histórias distintas, mas, em comum, guardam sintonia por terem gerado inúmeras contribuições socioeconômicas para os brasileiros.
A Vale era uma empresa estatal que, após ser privatizada, se agigantou e os brasileiros podem se orgulhar de essa empresa brasileira ser uma das maiores e mais influentes no mundo.
Outras companhias também se destacam, como a Anglo American. Sua história começou em 1917 com uma mina de ouro em Joanesburgo, na África do Sul. Em 1973, a companhia chegou ao Brasil com um escritório no Rio de Janeiro, considerado o primeiro passo de uma nova estratégia de negócio, que levaria futuramente às operações de ouro, níquel, nióbio, fosfatos e minério de ferro no país.
A AngloGold Ashanti, maior produtora de ouro do Brasil, chegou ao País no século XIX e opera até hoje com muito brilho, representam a solidez da mineração brasileira e sinalizam que há muito potencial a ser desenvolvido nas décadas por vir.

M&E – ESG é a sigla que vem norteando muitos investimentos nos mais diversos setores da economia brasileira. No que tange à mineração, como esse tema vem sendo tratado pelas empresas, inclusive as pequenas e médias mineradoras?
Jungmann –
As mineradoras associadas ao IBRAM praticam o ESG há muitas décadas. Esta sigla foi adotada recentemente pelo mundo corporativo, porém, as boas práticas já estavam colocadas e sendo adotadas. Nossas associadas têm no ESG um componente de seu DNA corporativo: sabem que não seguirão existindo, tendo acesso a mercados, se não forem seriamente comprometidas com a sustentabilidade, com o respeito às pessoas e ao meio ambiente, com a excelência em governança. O IBRAM vê que as pequenas e médias também procuram agir nesse sentido porque elas exercem uma mineração que é acompanhada de perto pela sociedade. E é a sociedade que exige as boas práticas de todos os setores, e cada vez mais. Afinal, agir com boas práticas, com boa fé, com respeito aos outros é uma obrigação e não apenas um item de uma política empresarial.

M&E – Por falar em boas práticas e na Exposibram 2022, a nova regulamentação da Agência Nacional de Mineração (ANM) sobre barragens de mineração está merecendo um painel no Congresso. Qual a importância do tema?
Jungmann –
O setor mineral deve sempre buscar sua atuação baseada na responsabilidade social e ambiental. A segurança de barragens é um tema que merece toda atenção no setor. A legislação específica relacionada a essas estruturas está nessa regulamentação da ANM. Em paralelo, os métodos de gestão de barragens e a implantação de medidas de segurança pelo setor mineral brasileiro avançaram consideravelmente nos últimos anos. O IBRAM, em 2019, focando no avanço do conhecimento e das boas práticas relacionadas à disposição de rejeitos provenientes da extração mineral, lançou o “Guia de Boas Práticas: Gestão de Barragens e Estruturas de Disposição de Rejeitos”. Atualmente, trabalha na produção do aplicativo para celular PROX, para aprimorar a transparência e a comunicação do setor com a comunidade e ali disponibilizará aos cidadãos informações importantes sobre as barragens de mineração.

M&E – A lavra e o comércio ilegais de ouro também são assuntos que preocupam o setor de mineração. Qual a contribuição do IBRAM na busca de soluções para esse problema?
Jungmann
– A articulação entre os setores público e privado – representado pelo Instituto Brasileiro de Mineração (IBRAM) – e entidades da sociedade civil vem avançando na estruturação de medidas contra a lavra e o comércio ilegais de ouro. O tema tem sido debatido pelo IBRAM e outras organizações com as autoridades, como o Banco Central e a Polícia Federal. Em meados de agosto, reuniram-se em São Paulo, de forma inédita, o IBRAM, mineradoras de ouro, o Instituto Escolhas (articulador do evento) e representantes do setor joalheiro para debater eventuais soluções para esse comércio ilegal. Também foi discutida a possibilidade da comercialização sustentável e certificada, com rastreamento da origem do ouro lavrado e comercializado no País, para identificar, não só a procedência do ouro, mas para agilizar e ter mais assertividade na identificação dos que praticam atividades ilegais. Nessa reunião, foi constituído um grupo de trabalho para dar continuidade às discussões. O IBRAM defende a união de forças capazes de estruturar propostas factíveis e atrair apoio para enfrentar as organizações que cometem verdadeiros crimes contra as pessoas, a natureza, a Amazônia e a economia.

M&E – Falando em Amazônia, recentemente o IBRAM organizou um evento em parceria com a Fundação Fernando Henrique Cardoso (FFHC) que tratou, entre outros temas, dos desafios do desenvolvimento sustentável da mineração naquela região. Quais as principais conclusões desse debate?
Jungmann –
Defendemos, principalmente, a participação conjunta das forças da sociedade, do empresariado e do setor público para formularem, com urgência, um projeto de desenvolvimento sustentável para a Amazônia. O Brasil não sabe o que fazer com a Amazônia. Se continuar com o nível de pobreza e de violência ali, não há quem dê conta dessa situação. São 25 milhões de pessoas habitando aquele território e é preciso dar oportunidades para que todos possam atuar com regularidade e não serem vítimas dos que praticam ações ilegais, interferindo seriamente na capacidade de o Brasil planejar a evolução da mineração industrial. Esse garimpo ocupa uma área maior do que a pertencente a todo o conjunto de mineradoras legalizadas no país e sua proliferação, ancorada em iniciativas criminosas, contra pessoas e o meio ambiente, é estimulada tanto por um sentimento de impunidade quanto por uma legislação benevolente. A mineração industrial organizada – que hoje ocupa apenas 0,1% do território, segundo o MapBiomas – é uma das opções viáveis para fomentar o desenvolvimento socioeconômico e ambiental da Amazônia, pois tem compliance e é grande geradora de riqueza.

M&E – Houve alguma divergência dos presentes na sede da FFHC quanto a algum desses pontos?
Jungmann
– A opinião dos participantes é unânime quanto à necessidade de aceitar a mineração que olha para a sustentabilidade, que traz desenvolvimento econômico para o País sob o ponto de vista socioambiental, aquela que busca a exploração do recurso mineral com preservação ambiental, com cuidado com as comunidades, com atenção à licença social para operar, adotando os compromissos ESG. Essa mineração é importante pilar da economia e do desenvolvimento, e o Brasil tem como desafio regularizar a atividade nos padrões técnicos aceitos internacionalmente.